sábado, 7 de abril de 2007

Os salvadores de pauta

Os jornalões, quando falta assunto, geralmente em feriados, têm seus salvadores de pauta. Economistas, políticos, intelectuais, artistas, que estão sempre disponíveis para falar, a qualquer hora, sobre qualquer coisa. E sempre a favor da linha editorial de quem os entrevista. Folha e Estadão estavam sem assunto na Semana Santa e então entrevistaram dois desses tipos, o cientista político - seja lá o que for isso - Leôncio Martins Rodrigues e o historiador Marco Antônio Villa. A situação dos jornais era tão desesperadora que os editores nem perceberam o alto teor de bobagem contido nas entrevistas. Aí vão dois pequenos exemplos:

Folha - Como o sr. avalia a atuação do presidente Lula no episódio? (greve dos controladores)
Leôncio - O presidente, altos membros de seu ministério e o próprio ministro da Aeronáutica saíram mais do que chamuscados do episódio. Recapitulemos: inicialmente, o presidente, a bordo da aeronave presidencial, manda um ministro importante de seu governo negociar com os controladores, fazer promessas, ceder e prometer muito mais do que poderia, inclusive de que não haveria punições. No final, o presidente conseguiu descontentar a todos e reforçar a impressão de que, além de mau administrador, não é um interlocutor confiável. Mas é preciso reconhecer que -circunscrevendo a avaliação da atuação do presidente apenas à situação de pandemônio instalada nos aeroportos - o presidente tinha que agir rápido, de longe e com "a faca no pescoço", para plagiar o ministro Paulo Bernardo. O grande erro foi deixar a situação dos aeroportos chegar aonde chegou. Além disso, de algum modo, o governo passava aos controladores de vôo a crença de que, pressionado, o governo cederia.

Estado- Na política internacional, há críticas contra o que seria a permissividade de Lula em episódios como a nacionalização do gás, com Evo Morales, ou com o populismo de Hugo Chávez. O senhor concorda?

Villa - Não defendo nem uma política agressiva, nem uma política de panos quentes. Parece mesmo ser uma bobagem para o presidente se transformar em um anti-Chávez ou anti-Morales, até porque o raio de influência deles, como se verá, não é tão grande quanto muitos acreditam. O problema da indecisão do presidente nessa área está em dois pontos. Um deles é que estamos falando de questões de soberania nacional brasileira, e fica claro que Lula não sabe como lidar com ela por não ter claro o que deve fazer, a não ser uma escolha por seguir a política hegemônica em curso no Itamaraty. O outro ponto é a maneira às vezes até clandestina de tentar resolver - como essa edição sem alarde de uma medida provisória que libera R$ 20 milhões para fazer uma reforma agrária na fronteira entre Bolívia e Brasil, sob a justificativa frágil de que há muitos agricultores brasileiros na área.
O presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a ser definido como um político que não sabia dizer não. Qual é a diferença entre ele e Lula nesse quesito?Fernando Henrique também teve ampla base no Congresso, mas foi testado em outras esferas. Pegou a economia mundial em situação complicada, enfrentou problemas com as reservas. Aí tomou decisões. Lula pegou céu de brigadeiro na economia mundial e nem assim soube aproveitar o momento favorável para dar um salto em relação à situação que encontrou. Manteve a política econômica no ponto em que pegou. As crises econômicas mundiais aparecem em ciclos e os especialistas dizem que há outra em vista. Vai chegar em breve o momento em que vamos precisar de um presidente com perfil executivo, que saiba decidir. E nós não temos. Usando as analogias futebolísticas que agradam a Lula, uma coisa é ser técnico do Santos na década de 60, com aquela equipe de estrelas que se moviam sozinhas; outra é ser técnico do Corinthians hoje.


Leôncio se contradiz na sua resposta. Esculhamba Lula e todo o governo para depois dizer que ele tinha de agir rápido por estar "com a faca no pescoço". Já Villa afirma que Lula não sabe lidar com questões de soberania nacional e apenas segue a política "hegemônica" do Itamaraty. Mas essa tal política do Itamaraty é de qual governo, mesmo? Será que não é a tão criticada política externa do ... governo Lula? Já o fim de sua resposta parece ter saído dos livretos de campanha do derrotado Geraldo - se, nos textos de propaganda ele tivesse tido a coragem de defender o governo FHC.
A propósito, Leôncio e Villa são dois dos mais conhecidos intelectuais tucanos. Talvez por isso mesmo eles sejam tão queridos pelos pauteiros de Folha e Estadão.

Espelho do Brasil

O Canal Brasil exibiu, dias desses, o filme O Corinthiano, de 1967, dirigido por Milton Amaral e estrelado por Mazzaropi. Conta a história de um barbeiro que vive na periferia de São Paulo, com a mulher e os dois filhos. Sua paixão é o futebol, ou melhor, o Corinthians. Por causa disso, vive às turras com o vizinho palestrino e com sua própria família. Seu maior desgosto, quando o Corinthians não perde, é saber que o filho não quer ser jogador de futebol e sim médico, e a filha, bailarina, e não costureira.
O barbeiro Manuel não acredita em mobilidade social. Seu mundo é feito de códigos rijos. Só perdoa a filha quando um militar de alta patente lhe diz que o sonho das melhores famílias é ver suas filhas integrarem um corpo de baile. "Sempre me falaram que esse negócio de dançar não é pra moça direita" - assim ele justifica seu veto à escolha da filha. É preciso lembrar que o país já vivia sob a ditadura militar em 1967. Mazzaropi batia continência à autoridade. No fim, ele se convence também que a escolha do filho não foi tão ruim - afinal, existia a possibilidade dele trabalhar no Corinthians.
Além das imagens históricas do clássico Palmeiras e Corinthians, num Pacaembu cheio e ainda com a Concha Acústica - e do desfile de craques do naipe de Ademir da Guia e Dino Sani -, o filme exibe momentos da genialidade do artista Mazzaropi. Talvez ele não tenha sido o único a captar as sutilezas do homem comum brasileiro, mas certamente foi quem encarnou de maneira mais completa suas fraquezas. Seja no papel do caipira, do Jeca, ou em tipos urbanos, como este barbeiro Manuel, Mazzaropi, com aquele andar trôpego, balançado, com seu jeito desamparado e sua voz única, é como um espelho do Brasil. O barbeiro que não vê perspectiva para o futuro de seus filhos, a não ser como jogador de futebol ou costureira, não é uma metáfora - é, ainda, a triste realidade.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

O maior tabu

O site do jornalista Claudio Humberto (www.claudiohumberto.com.br) noticia que o filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com a jornalista Miriam Dutra, Tomás, de 15 anos, foi esfaqueado, num assalto ao qual tentou resistir, em Barcelona, onde mora com sua mãe. Claudio Humberto, no seu estilo costumeiro, afirma que o pai de Tomás nem telefonou para saber como estava o garoto.
Deselegância à parte, Claudio Humberto trata sem cerimônia um dos maiores tabus da imprensa brasileira. No ano 2000, a revista Caros Amigos publicou extensa reportagem sobre o silêncio da imprensa em relação a esse caso. As informações que antes circulavam como boatos e fofocas em rodas de jornalistas foram confirmadas pelos repórteres. Os protagonistas, claro, se calaram. Miriam Dutra foi irônica e pediu que os esclarecimentos sobre o assunto fossem dados pela "figura pública" envolvida. Mas a "figura pública" estava blindada por um muro de assessores que barrou as tentativas de contato.
Os diretores de redação dos jornalões confirmaram que a história era comentada entre eles. Mas disseram que não havia motivo para publicá-la, pois se tratava de algo pessoal e que faltava um motivo gerador que a transformasse em notícia - como se o próprio fato de um presidente da República ter cometido adultério e dessa relação extra-conjugal ter nascido um filho não fosse a própria notícia.
O mesmo tratamento, todos sabem, não foi dado a outros presidentes. Lula e Collor que o digam. Nem a outras figuras públicas, como Pelé. Mas não é relevante saber se é papel ou não da imprensa noticiar essas coisas. O importante mesmo é constatar que por trás de todo o discurso dos editoriais dos nossos jornalões se escondem muitos outros interesses - não necessariamente em defesa da moral e da ética que pregam.

Prós e contras

O debate foi iniciado pelo líder cubano Fidel Castro. Mas a revista Foreign Affairs, por meio de um estudo de dois professores da Universidade de Minnesota, também alerta que o plano americano de aumentar a demanda por biocombustíveis, especialmente o etanol, pode criar centenas de milhões de pessoas cronicamente famintas em menos de 20 anos. Segundo a revista, os preços do milho, usado pelos americanos na fabricação do etanol, e os de outros cereais, também utilizados na alimentação humana e de animais, já estão mais altos.
O mesmo raciocínio é desenvolvido por Fidel no seu sombrio prognóstico de que o uso do etanol para mover os veículos dos Estados Unidos matará milhões de pobres de fome - será preciso cada vez mais milho para fazer álcool e o avanço de sua área plantada vai diminuir a produção de outros grãos e, conseqüentemente, elevar os preços.
Para os professores americanos, uma solução seria os Estados Unidos importarem mais etanol produzido a partir de cana-de-açúcar de países tropicais. Leia-se, do Brasil. Mas para que isso ocorra, será preciso que os americanos diminuam - ou derrubem - a sobretaxa que cobram na importação do produto.
Nada é simples. Será ainda um longo caminho até que o mundo aprenda a usar os biocombustíveis de modo que tragam mais benefícios que prejuízos.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Concorrência

Os jornalões deram destaque ao fim do programa da Globo BBB. O Estadão, que fecha mais cedo que o concorrente Folha seu caderno de variedades, usou o caderno chamado Vida para abrigar a notícia. Seus editores devem ter achado que não poderiam, de maneira nenhuma, tomar tal furo. E assim caminha a mediocridade.

terça-feira, 3 de abril de 2007

A grande batalha

Secretário de Comunicação novo, problemas antigos. O governo perde, mais uma vez, de goleada, a batalha da comunicação. Não há um só jornal, uma só rádio, uma só televisão, em todo o país, que faça uma cobertura isenta da crise do setor aéreo - no jargão desses "comunicadores", o "apagão aéreo", numa evidente revanche do verdadeiro apagão, proporcionado por FHC e sua turma. E com o claro propósito de criar na opinião pública a sensação de que vive num país sem governo nem autoridade.
Resta a internet, que ainda tem vozes que destoam do uníssono tom de achincalhe que permeia todas as notícias, opiniões, editoriais e coisas que o valham dos jornalões e jornalinhos por aí afora. É como se essa imprensa dita livre fosse a oficial - não há o outro lado, não existe possibilidade de se ouvir uma voz sequer em defesa do governo. Mas a internet dá seus primeiros passos. Vigorosos, porém pequenos. Seu poder ainda é limitado.
Ao governo Lula não resta alternativa a não ser enfrentar com coragem a batalha da comunicação, antes que seja tarde demais.

Parceiros distantes

Leão tentou o quanto pôde. Se continuasse a dirigir o Coríntians ia apenas estender um martírio que durava meses - para ele e para o grupo. Será difícil para o clube, agora, contratar o que chamam de "técnico de ponta". Os poucos que existem no mercado devem dispor de informações suficientes para mantê-los bem longe do Parque São Jorge. Da mesma forma, será complicado para Leão arranjar um clube da elite do futebol brasileiro para dirigir - seu desempenho no Coríntians foi sofrível. A parceria dos dois fez mal para ambos.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Meninos, eu vi.

"Esse torneio que o Palmeiras ganhou, eu vi. O Santos fez vários torneios na Argentina, Chile, México e teria uns cinco ou seis títulos mundiais a mais. Torneio assim, o Santos ganhou um monte."
Pelé nasceu em 1940 e, portanto, em 1951, ano em que o Palmeiras conquistou a Copa Rio, tinha 11 anos. Morava ainda em Bauru. Pelé não viu nem a Copa do Mundo de 1950 nem a Copa Rio, idealizada para tentar reerguer o moral dos brasileiros depois do desastre do Maracanã.
Bem que Romário disse um dia que Pelé calado é "um poeta".

Sucessão

Os candidatos à vaga de Carlos Lacerda se apresentam. Puxa a fila o prefeito do Rio, César Maia. Compara o motim dos controladores de vôo à reunião dos marinheiros em 1964. Maia integra o partido chamado Democratas. Tem tudo a ver: antes eles se tratavam de liberais.

domingo, 1 de abril de 2007

Melhores e piores

A palavra é do historiador Evaldo Cabral de Mello, entrevistado no número 1 da revista BrHistória, da Editora Duetto:
"Dois sujeitos fundamentais (para o Brasil) foram d. Pedro II e Getúlio Vargas. Pode-se até detestá-los, mas, até pelo tempo que ficaram no poder, deixaram a marca deles no país. E, para minha surpresa, vejo que o Brasil fica admirando Rui Barbosa. Achar que Rui Barbosa foi um grande homem porque fez grandes discursos... O que tem de contar é a obra da pessoa."
"Carlos Lacerda, graças à própria inteligência (foi o personagem mais nefasto da história do Brasil). Ele tinha um quê de Rui Barbosa por conta da retórica retumbante e do discurso da moralidade. Foi um homem que, de 1945 até se virar contra os militares, sistematicamente, fomentou a instabilidade nas instituições. Outro altamente nefasto foi Jânio. Acho que não há mais dúvidas de que ele era desequilibrado. Esse, aliás é um problema grave no Brasil. O eleitor se encanta com gente desequilibrada."