O Canal Brasil exibiu, dias desses, o filme O Corinthiano, de 1967, dirigido por Milton Amaral e estrelado por Mazzaropi. Conta a história de um barbeiro que vive na periferia de São Paulo, com a mulher e os dois filhos. Sua paixão é o futebol, ou melhor, o Corinthians. Por causa disso, vive às turras com o vizinho palestrino e com sua própria família. Seu maior desgosto, quando o Corinthians não perde, é saber que o filho não quer ser jogador de futebol e sim médico, e a filha, bailarina, e não costureira.
O barbeiro Manuel não acredita em mobilidade social. Seu mundo é feito de códigos rijos. Só perdoa a filha quando um militar de alta patente lhe diz que o sonho das melhores famílias é ver suas filhas integrarem um corpo de baile. "Sempre me falaram que esse negócio de dançar não é pra moça direita" - assim ele justifica seu veto à escolha da filha. É preciso lembrar que o país já vivia sob a ditadura militar em 1967. Mazzaropi batia continência à autoridade. No fim, ele se convence também que a escolha do filho não foi tão ruim - afinal, existia a possibilidade dele trabalhar no Corinthians.
Além das imagens históricas do clássico Palmeiras e Corinthians, num Pacaembu cheio e ainda com a Concha Acústica - e do desfile de craques do naipe de Ademir da Guia e Dino Sani -, o filme exibe momentos da genialidade do artista Mazzaropi. Talvez ele não tenha sido o único a captar as sutilezas do homem comum brasileiro, mas certamente foi quem encarnou de maneira mais completa suas fraquezas. Seja no papel do caipira, do Jeca, ou em tipos urbanos, como este barbeiro Manuel, Mazzaropi, com aquele andar trôpego, balançado, com seu jeito desamparado e sua voz única, é como um espelho do Brasil. O barbeiro que não vê perspectiva para o futuro de seus filhos, a não ser como jogador de futebol ou costureira, não é uma metáfora - é, ainda, a triste realidade.
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