domingo, 30 de setembro de 2012

Serra e Russomano, duas faces da direita


Nada como a sinceridade para pôr as coisas em seus devidos lugares. A professora e filósofa Marilena Chauí costuma dizer o que pensa, vai direto ao assunto, não tergiversa nem usa de figuras de linguagem para as suas definições. Num debate na semana passada no comitê da candidata a vereadora Selma Rocha para discutir o tema "A Política Conservadora na Cidade de São Paulo", a professora resumiu, de maneira simples, o que são, politicamente, Celso Russomanno e José Serra:  eles representam duas vertentes da direita paulista igualmente prejudiciais à democracia, à inclusão e à cidadania.
Segundo a filósofa, Russomanno simboliza “a forma mais deletéria do populismo, porque é o populismo de extrema direita” de uma cidade “conservadora, excludente e violenta”, enquanto Serra encarna “um dos elementos de selvageria e barbárie do Estado e da cidade de São Paulo”.
Ela define o candidato do PRB como herdeiro do populismo tradicional de São Paulo, na linhagem de Ademar de Barros e Jânio Quadros. O primeiro foi governador de 1947 a 1951 e de 1963 a 1966. O segundo, governador de 1955 a 1959 e prefeito da capital duas vezes (1953 a 1955 e 1986 a 1989), além de presidente da República por sete meses (de janeiro a agosto de 1961).
O candidato tucano à prefeitura paulistana representa o que ela chama de projeto hegemônico de PMDB e PSDB, há 30 anos dominando o Estado. “Começou com Montoro, depois Quércia, Fleury, o Covas e o Alckmin. É muito tempo. É curioso que se trata de um partido que chama o PT de totalitário. Eles estão há 30 anos no poder. Se isso é totalitarismo, totalitários são eles”, diz a professora de Filosofia Política e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Para ela, quem se compromete com a cidadania deve entender a gravidade do momento político: “Não podemos admitir nem a conservação no poder dos responsáveis pela barbárie, nem a retomada do processo característico também desta cidade protofascista, que é ter à sua frente figuras do populismo de extrema-direita. É nossa tarefa política, enquanto cidadãos, fazer com que cada um, ao nosso lado, compreenda isso”.
Marilena Chaui considera “uma tarefa libertária” a superação do entrave à cidadania representado pelas duas forças políticas que dominam uma “cidade na qual a violência, seja real, seja imaginada, é a forma da relação social e das relações entre as pessoas – para que a cidade se reconheça numa possibilidade nova”.
Na sua fala, ela disse ser preciso desfazer a confusão provocada pela ideia de que Russomanno e Fernando Haddad (PT) são os dois candidatos novos na eleição paulistana. “Tenho insistido em mostrar que, em primeiro lugar, não se pode confundir um rosto que não está identificado ao universo da política com o novo. Mas em segundo lugar, é preciso localizar Russomanno nessa vertente antiga enraizada na cidade de São Paulo, que é a posição política conservadora, autoritária, do populismo de extrema direita.”
Para a filósofa, as forças políticas conservadoras transformaram São Paulo em uma cidade que “opera um processo contínuo de expulsão da classe trabalhadora, das classes populares, de qualquer centro no qual o poder público tenha feito intervenção de melhorias urbanas. Se tiver asfalto, luz, água, esgoto, semáforo, você pode contar que a exclusão já está a caminho. E no lugar da classe popular você tem os espigões, essa verticalização absolutamente desgovernada. Nós estamos aqui para propor a ruptura com essas tradições, com essas políticas conservadoras, com o que está sedimentado e nos sufoca, dia a dia”. (Com informações da Rede Brasil Atual)

Um comentário:

  1. Impressionante, o livro O que é ideologia da Chaui editado pela Brasiliense fez a minha cabeça na década de 80. Hoje tudo o que ela fala eu não consigo concordar.

    Quero ver qual vai ser a postura dela se tiver de optar entre Serra e Russomano.

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