sábado, 31 de dezembro de 2011

Diletantes e profissionais

"Fantasiado com bastão", coleção particular

Nesta chuvosa véspera de Ano Novo, leio que Mario Gruber, fino esteta do traço e das cores, poeta amargurado da escrita sem palavras, morreu, aos 84 anos.
Os jornais soltam algumas pequenas notas, até mesmo a ministra da Cultura vai a público lamentar o ocorrido.
Além da grande obra que deixou, Mario Gruber pode se orgulhar do fato de que seu filho Gregório e seu neto Tamino seguiram os seus passos, imprimindo, cada qual a seu modo, sua marca na produção artística brasileira.
A morte de Gruber suscita algumas reflexões, principalmente neste momento em que as praias estão cheias de gente ansiosa à espera da contagem dos segundos que faltam para o início de 2012.
Uma das principais diz respeito ao papel da arte e da cultura num país com a vitalidade do Brasil, que hoje se esforça para se ombrear às democracias mais prósperas da Terra.
É um assunto ainda aberto a toda espécie de discussão.
Nenhuma delas há, porém, de ignorar o fato de que, quase toda a produção artística contemporânea, em qualquer tipo de manifestação - não falo, evidentemente, do subproduto comercial, do lixo da indústria de entretenimento - nasceu praticamente sem a ajuda estatal.
E, como todos sabem, a arte popular brasileira não faz feio no mundo.
Imagino então como seria se houvesse no país um esforço coordenado entre os entes federativos para que a juventude tivesse, pelo menos, acesso mais amplo a essa notável produção.
Ouso, num delírio, pensar em como seria bom se o rádio e a TV trocassem só um pouco da porcaria que transmitem por uma programação mais "saudável", mais educativa.
Gruber começou sua brilhante carreira de pintor, gravador e escultor como autodidata. Teve, porém, a oportunidade de estudar na França, onde certamente ampliou seus conhecimentos e depurou a sua arte.
Nesse sentido, foi afortunado.
São raros os que conseguem atingir a condição de mestres no que fazem sem o apoio de alguém, sem a orientação e os ensinamentos dos mais experientes.
Há toda uma geração criativa, inventiva e talentosa, que pode ajudar o Brasil a se firmar também como uma potência artística e cultural, espalhada por aí. Mas é preciso que mãos generosas a ajude a superar a barreira que separa o diletante do profissional.

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