terça-feira, 21 de junho de 2011
Paixão e preconceito
Curioso sobre a quantidade, qualidade e baixo preço dos carros chineses, fui, semanas atrás, em três concessionárias para ver se os veículos tinham mesmo o acabamento tão ruim quanto havia lido em diversos lugares. Fiz uma crônica sobre isso. Como escrevi, achei que os automóveis made in China vendidos aqui estão até mesmo num nível superior aos "nossos" - que de nossos não têm nada, já que são produzidos por empresas americanas, alemãs, italianas e francesas.
De lá para cá, parece que o consumidor, graças a uma campanha publicitária massiva da JAC Motors, deixou um pouco de lado o seu preconceito contra os produtos chineses. As vendas dessa montadora crescem dia a dia, prova de que a estratégia de marketing foi bem sucedida e o carro, se não é lá o melhor do mundo, não é a porcaria que alguns dizem ser.
E é exatamente sobre esse tema que pensei em escrever esta crônica. Está certo que esse negócio de carro, para muitas pessoas, funciona como torcida de futebol. Tem gente que só compra (torce) pelo carro da Volks, outro que acha o da Fiat o máximo e o resto um lixo - e aí por diante. Esse é o consumidor que se move pela paixão, o sujeito que deixa de lado todo o aspecto racional numa compra e age exatamente como um torcedor do Corinthians - ou do Flamengo, ou do Palmeiras etc etc.
O gozado é que esse comportamento parece ter contaminado até mesmo parte da imprensa dita especializada. É impressionante como o repórter que escreve uma matéria sobre um teste com qualquer carro chinês é exigente! Houve um que desancou o veículo porque, segundo escreveu, as cores do painel não combinavam! E escreveu isso na mesma matéria em que elogiou o comportamento do motor do veículo, confessando, ingenuamente, que "descobriu" que ele era um de 1.6 cc e não de 1.8 cc, como supunha, só depois de ler o manual do carro...
Não sei se por ignorância ou má fé mesmo, nenhum desses ilustres escribas destaca o fato incontestável de que a China é hoje uma potência em ciência e inovação, já tendo mandado homens ao espaço, desenvolvido aviões militares tão modernos quanto os americanos e russos, além de ter uma sofisticada e fortíssima indústria de eletrônica e tecnologia da informação, só para citar algumas áreas em que o país se destaca.
Essa volúpia chinesa pelo conhecimento, todos devem saber, é coisa antiga, vem de bem longe. Portanto, o que hoje o país faz nada é mais que dar continuidade a um processo cultural riquissímo em todas as áreas do conhecimento humano.
A tecnologia do motor à explosão, que move os carros em todo o mundo, é centenária. O processo de montagem, também. Países com muito menos sofisticação industrial que a China - incluindo neles o Brasil - fabricam carros. Então, por que os chineses, que têm dinheiro de sobra, conhecimento de sobra, mão de obra mais que de sobra, estariam fazendo produtos tão inferiores assim aos outros?
Realmente, só dá para explicar isso por meio de uma palavra que cada vez mais se torna corrente nos dias de hoje: preconceito. E isso não é nada bom, seja lá onde for, seja lá em que for aplicado.
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