terça-feira, 9 de abril de 2013

O vale-tudo pela alta dos juros


A uma semana da reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom, a pressão pelo aumento da taxa básico de juros da economia, a Selic, atinge níveis inéditos.
Ninguém mais disfarça o lobby a favor dos bancos.
Parece que, se o juro não subir, o país vai acabar de imediato.
A justificativa é a inflação, que, para 110% dos tais "analistas", esse pessoal que trabalha com afinco para o sistema financeiro, é "persistente" - quando todos os índices apontam para a sua queda -, e só pode ser combatida com uma dose na veia de juros altos - quando qualquer criança sabe que, no caso do setor de serviços, o que mais preocupa, os juros não fazem o menor efeito.
A inflação realmente preocupa a equipe econômica, mas a maior preocupação não é ela, e sim o desinteresse dos empresários em investir, em produzir mais para atender os milhões de novos consumidores do país.
Da mesma forma que a iminência de um racionamento de energia era apenas mais uma entre tantas tentativas  da turma do contra de desestabilizar o governo Dilma, essa conversa toda sobre o perigo de o Brasil mergulhar numa hiperinflação é o maior papo furado do mundo.
O fato é que os bancos ainda não engoliram a queda de juros determinada pela presidente Dilma, que complicou a vida fácil que levavam, ganhando bilhões sem esforço nenhum.
Eles não se conformam em ter perdido essa mamata e querem voltar, de qualquer modo, ao dolce far niente dos tempos dos juros estratosféricos, essa praga que faz mal a todos, com exceção, é óbvio, dos banqueiros e especuladores em geral
Para terminar esse desabafo contra essa tentativa espúria de empurrar goela abaixo do país um "remédio" que se assemelha às beberragens imundas vendidas em feiras livres, reproduzo os três parágrafos finais do artigo desta semana do insuspeito economista Delfim Netto, publicado no Valor e intitulado "O cabo de Guerra e a Manobra do Juro".
E se até o Delfim recusa os argumentos dos tais "analistas", é que a coisa é mesmo séria.
Aí vai:
É preciso reconhecer que uma taxa de inflação anual de 5,9% nos últimos dez anos (30% sistematicamente acima da meta) já deveria ter mobilizado governo e sociedade para reduzi-la. A taxa de inflação é o radiador que dissipa o calor produzido pelos atritos no funcionamento dos mercados. E 4,5% é seguramente maior do que os 2,5% a 3,5% que parecem estabilizar as expectativas e fazê-los funcionar razoavelmente bem, na grande maioria dos países.
É mais do que óbvio, entretanto, que produzir esse resultado está fora do alcance da política monetária. Ele será consequência de uma política social e econômica, que tenha por objetivo continuar a manter a inclusão social com o suporte de medidas que reforcem as instituições e produzam mudanças estruturais, que estimulem a competição e reduzam os atritos.
Acreditamos que a visão do Banco Central tem tanta consistência quanto a do "mercado", o que recomenda sua cautela na manipulação da taxa de juros real. Até agora, a visão do primeiro tem se revelado a mais ajustada à nossa realidade e mais antenada com a situação da economia mundial. Se o que o Copom previu para o futuro próximo não se realizar - e a realidade mostrar a necessidade de uma manobra que sancione o aumento da taxa de juro real -Tombini a fará com a mesma tranquilidade e autonomia com que tem recomendado a "cautela". Quem viver, verá.

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