sábado, 27 de abril de 2013

O que dá raiva no governo


Os governos Lula e agora o de Dilma representam um notável avanço em relação aos anteriores, principalmente na ampliação do mercado de consumo e das políticas sociais, que possibilitaram a ascensão de milhões de pessoas.
Isso, porém, não significa que eles tenham feito tudo certo, ou que não existam pontos em que mereçam ser severamente criticados.
Não dá para entender, por exemplo, essas questões:
1) o titubeio em relação à instituição de um marco regulatório para o setor de comunicações que leve o país à contemporaneidade;
2) a manutenção das taxas de juros em níveis civilizados, solidificando a ação iniciada no ano passado, e que, tudo indica pelas manifestações da diretoria do Banco Central, não terá continuidade em 2013;
3) a submissão da agenda política ao oligopólio das comunicações, que, qualquer um sabe, funciona como o mais importante partido político de oposição;
 4) o pouquíssimo uso das concessões de rádio e televisão para informar o público sobre medidas que lhes diga respeito;
5) o financiamento generoso dos órgãos de comunicação, ou melhor, dos partidos políticos oposicionistas;
6) as bondades tributárias, entre outras, concedidas a setores empresariais que deixaram de investir em sua modernização e foram totalmente ultrapassados pela concorrência externa;
7) as bondades fiscais, entre outras, ao setor automobilístico, sem contrapartidas de verdade, tais como a modernização dos seus produtos e a diminuição dos preços de venda ao consumidor;
Existem, claro, muitos outros pontos em que os governos trabalhistas pisaram na bola. E que se não chegam a comprometer seriamente o conjunto da obra, servem para deixá-los com uma cara bem mais próxima daquilo que seus inimigos, a "turma do contra" citada por Dilma, gostaria que eles tivessem.
Os motivos para que isso aconteça são, para os pobres mortais que não acompanham os bastidores brasilienses, absolutamente indecifráveis.
Talvez os nossos governantes tenham até mesmo todas as razões do mundo para ignorar solenemente as questões aqui levantadas.
Pode ser. Eu até gostaria que fosse assim, mas duvido muito disso.

4 comentários:

  1. Tentemos então acompanhar esses bastidores:
    1 - Não dá para passar uma lei de meios eficaz sem imenso apoio da sociedade. A mídia de massa é contra, como convencer a população que isso é um benefício, sem o qual não se obtém a pressão necessária sobre o parlamento (do qual depende a aprovação)?
    2 - As taxas de juros, se comparadas a patamares anteriores ao trabalhismo, estão em níveis bastante civilizados, pois sofreram uma redução à terça parte. Mas não podem ser totalmente abandonadas como instrumento de política econômica, no controle da inflação. Sei que a mídia faz um jogo dúbio, apoiando rentistas e apostando no insucesso das desonerações e da queda da inflação por outros mecanismos que não sejam puramente monetários, mas isso não obriga o governo a deixar de usar tais mecanismos quando julga necessário. O que é pior: subida de preços ao consumidor ou de juros? É um dilema, uma escolha difícil.
    3 - Não vejo tanta submissão assim da agenda política. Em muitos momentos, o governo mostrou que tem uma agenda própria e implementou-a. O que ocorre é que temos de fato uma mídia que faz o papel de oposição política e que ocupa espaços privilegiados de interlocução com o público.
    4 - Concordo plenamente.
    5 - As leis que impõem a publicidade dos atos administrativos obrigam a que determinados anúncios sejam colocados em 'veículos de grande circulação'. Essas leis teriam que ser mudadas e para isso, uma vez mais, o Congresso teria que apoiar tal mudança.
    6 e 7 - Concordo em parte. Algumas dessas bondades refletiram-se em aumentos de vendas e aquecimento de setores associados à cadeia produtiva, ou correlacionados (autopeças, seguros e postos de gasolina, por exemplo).
    Em geral, concordo com boa parte das críticas, mas noto que nem sempre o simples desejo pode governar as ações. O Congresso, a mídia e outros grupos que detém poder político imenso ainda impõem muitas limitações ao que se deseja fazer. Como furar esse bloqueio, pergunto eu?

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    1. Permita-me discordar, Sala Fério, e o farei do mesmo modo que fez com o post do blog, ponto a ponto.
      1- Há várias formas, uma das mais óbvias delas é o ponto 4. Além disso, não vejo o governo se mexendo nesse sentido, ao contrário, vejo figuras do governo com posições no mínimo dúbias em relação ao assunto, como Paulo Bernardo.
      2- As taxas de juro ainda são altas. Se já não bastasse, o governo isenta de tributos alguns tipos de investimentos financeiros, como a compra de títulos públicos por não residentes. Outra, aumento de taxas de juro são ineficazes contra o tipo de inflação que aí está, qualquer economista não vinculado ao rentismo ou à grande mídia sabe disso.
      3- Não vê? A mídia disputa o governo e quase sempre obtém vitórias, ainda que algumas parciais. Basta ver o recuo do governo com a chiadeira dos conservadores, as vitórias da bancada ruralista, dentre outros.
      4- Que bom que concorda, isso ajuda a responder o que colocou no primeiro ponto.
      5- Você não "respondeu" o ponto cinco. A questão é o financiamento dos órgãos de comunicação, isso vai muito além da propaganda oficial estar nos grandes veículos de mídia. Até no financiamento à cultura, a grande beneficiada são as organizações Globo, e não tem nada a ver com propaganda de atos administrativos.
      6- O governo, via BNDES, contribuiu para fortalecer oligopólios sem exigir contrapartida alguma, nem em modernização nem em redução de preços, nada. Nesse quesito, é igual aos militares.
      7- Aquecer a economia baseada em venda de carros, enquanto as cidades grandes necessitam de um novo modelo de ocupação urbana chega a ser indecente.
      Como furar esse bloqueio? O partido do governo e seus aliados de esquerda e centro-esquerda são referência no movimento social do Brasil. Mas em vez de apoiá-los, tornou suas lideranças chapa branca!
      Eu acho esse governo melhor que o de FHC em TODOS os aspectos, mas, definitivamente, não é um governo de esquerda nem sequer contra hegemônico. Em muito ele mesmo se iguala ao anterior.

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  2. Muito pertinentes suas críticas, no tom certo.
    Embora vc não acredite em jornalismo imparcial, acaba de fazê-lo.
    Meus cumprimentos.

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  3. NÃO É POSSÍVEL ESQUECER QUE TEMOS O PMDB COMO PARCEIRO. FICA IMPOSSÍVEL TOMAR CERTAS ATITUDES NECESSÁRIAS TENDO O PMDB À FRENTE DE VÁRIOS MINISTÉRIOS IMPORTANTES. A SOLUÇÃO É ELEGER CADA VEZ MAIS CANDIDATOS DO PT PARA O LEGISLATIVO.

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