terça-feira, 2 de abril de 2013

Futebol e ditadura, mistura indigesta

Marin: o passado condena
(Foto: Elza Fiúza/ABr)
Em tempos de Comissão da Verdade, a iniciativa dos deputados federais Romário (PSB-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e do engenheiro Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, de entregar, na segunda-feira, na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma petição com quase 53 mil assinaturas para que o presidente da instituição, José Maria Marin, deixe o comando da entidade devido ao seu envolvimento com o regime militar, é emblemática. 
Ela representa, ao mesmo tempo, a inconformidade de grande parcela da população brasileira à impunidade que ainda gozam agentes e apoiadores da ditadura militar, e a constatação de que o Brasil somente poderá avançar rumo a uma democracia plena se enfrentar seus fantasmas.
Tirar Marin da presidência da CBF não é um ato de vingança. É, sim, uma medida imperativa para o país, principalmente porque tem a responsabilidade de organizar a Copa do Mundo de futebol de 2014, estando, portanto, inteiramente exposto à opinião pública global.
E, convenhamos, ter Marin como um dos expoentes do evento, vê-lo ao lado das principais autoridades do país, com aquela cara de pau característica, é de doer.
Segundo informou Ivo Herzog, não havia ninguém da diretoria da CBF para receber a documentação, que foi entregue no setor de protocolo, tendo sido também encaminhada para as 27 federações estaduais e para os 20 clubes de futebol que compõem o colégio eleitoral da CBF. 
“Entregamos cópia da petição, com mais de 53 mil assinaturas, cópia dos discursos do Marin na época, em 1974, e outro em 1976, um contra o meu pai e outro quando ele faz os elogios ao delegado Sérgio Fleury. Então, todas as federações estaduais e todos os clubes de futebol sabem agora quem é José Maria Marin. Cabe a eles se manifestarem contra, ou, se ficarem calados, é um sinal de conivência”, disse Herzog. 
De acordo com ele, o objetivo é fazer com que os times se posicionem quanto à liderança que querem na Copa do Mundo de 2014. 
Para Herzog, a falta de um diretor para recebê-los foi, no mínimo, falta de cavalheirismo, além de um ato antidemocrático. Ele se diz disposto a conversar, pois suas alegações são contestadas por Marin. “Eu quero perguntar qual foi o papel verdadeiro do José Maria Marin naquele tempo. Pelas informações que a gente tem, foi o pior dos papéis que ele poderia desempenhar, sendo não só conivente como incentivando a violência do Estado e elogiando os executores”. 
O deputado Romário diz que existe o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para investigar a CBF. “Pelo momento do Brasil, principalmente pelos grandes eventos que vem pela frente, como Copa das Confederações e Copa do Mundo, eu acredito que seja de suma importância a abertura dessa CPI, para que o Brasil realmente tenha noção, antes de começar esses grandes eventos, o que é a CBF, o que faz e o que vem fazendo essas pessoas que trabalham na confederação e principalmente no que se refere a essa administração nova”, disse.
De acordo com a deputada Jandira Feghali, os documentos reunidos pelo filho do Vladimir Herzog, jornalista que foi assassinado na prisão em 1975 nas dependências do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão ligado ao Exército, devem ser levados para a Comissão Nacional da Verdade (CNV). “Eu acho que de imediato, esses documentos que o Ivo Herzog e que essas duas comissões [da Câmara], da Cultura e do Esporte, trazem à CBF podem ir para a Comissão Nacional da Verdade. Com a instalação da CPI, claro que isso seria mais desenvolvido, mas de imediato isso deveria ir para a Comissão da Verdade, na investigação dos crimes da ditadura, e envolver as pessoas que, direta ou indiretamente, se envolvem na prisão e nos crimes que foram cometidos pela ditadura”. 
A CNV informou que só tomou conhecimento da discussão pela imprensa, mas que, se os deputados ou Ivo Herzog quiserem levar os documentos reunidos, o assunto pode ser investigado. No momento, não há investigação na comissão sobre o envolvimento de José Maria Marin com o regime militar. 
A assessoria da CBF informou que a instituição não vai comentar o assunto, mas publicou, em seu site, no dia 13 de março, uma contestação às acusações. Em um dos trechos do texto diz que que se trata de “má-fé e irresponsabilidade de pseudojornalistas que lá, tal como agora, com característico ânimo criminoso, empenharam-se na desmoralização de pessoas de bem, para satisfazer maus instintos, entretendo-se em atirar, em quem os mira de cima, a lama em que chafurdam esses delinquentes”. 
Anteriormente, também havia sido publicado no site da instituição que o assunto dizia respeito apenas à pessoa de Marin, e não à CBF. De acordo com Ivo Herzog, o fato da contestação ter sido publicada no site oficial da instituição, faz com que a CBF possa responder juridicamente pelo caso. (Com informações da Agência Brasil)

2 comentários:

  1. Romário calado é um poeta, diria o grande Pelé, aquele que não reconheceu sua filha Regina... por isso vai levar essa mágoa para a eternidade!

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  2. Romário combate Marin, mas emprega seu filho no clube de Luiz Estevão!

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