terça-feira, 23 de abril de 2013

"Eu só queria entender..."


O bordão "Não precisa explicar, eu só queria entender" tornou o macaco Sócrates, interpretado por Orival Pessini, um dos destaques do programa humorístico "Planeta dos Homens", da década de 80, na TV Globo. É uma pena que o filósofo símio não esteja hoje mais em ação para se admirar perplexo com certas coisas que andam acontecendo no país. O Supremo Tribunal Federal, e em especial o ministro Luiz Fux, por exemplo, seria um prato cheio para suas considerações filosóficas.
Sócrates certamente gostaria de entender a lógica peculiar de Fux. No voto do julgamento da AP 470, ele diz que há provas de que o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, apontado simplesmente nos autos como "1º réu",  comandou um esquema de desvio de dinheiro público com objetivo de corromper parlamentares e garantir a aprovação de projetos de interesse do Planalto no Congresso.
"Confrontando os fatos com os elementos dos autos, é possível assentar-se que as provas juntadas aos autos revelam a participação do 1º réu como responsável por comandar os atos da quadrilha voltada para a prática de ilícitos contra a administração pública", afirma.
Ainda de acordo com Fux, "o 1º réu passou a ter como uma de suas atribuições a formação da base aliada o governo federal dentro do Congresso Nacional, o que alcançou através de um projeto de poder de longo prazo de ilicitude amazônica".
Em seguida, ele rebate o argumento de que Dirceu não tinha mais influência sobre as ações do PT, citando, para isso, a sua amizade com o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e com o deputado José Genoino, que presidia a legenda: "A fraterna amizade acima descrita era capaz de romper todo e qualquer obstáculo e permitia que as informações circulassem livremente entre os três, o que torna certo o pleno conhecimento do 1º réu sobre os ilícitos praticados por sua agremiação partidária", diz.
Estranho argumento esse o do ministro Fux, que só vale para os outros, e não para ele, que nunca sentiu o menor constrangimento em julgar ações patrocinadas pelo seu fraterno amigo Sergio Bermudes, dono de uma das maiores bancas de advogados do país. Os laços de amizade entre o juiz e o causídico são tão fortes que até a filha de Fux trabalha em seu escritório.
O macaco Sócrates teria muitos motivos para repetir seu bordão se soubesse o que o ministro Fux anda aprontando no STF.
E, se prestasse mais atenção ao noticiário dos jornalões, poderia estender a sua perplexidade aos atos de outros ministros, como o presidente do tribunal, esse inacreditável Joaquim Barbosa, que comparece a atos de campanha política de candidatos oposicionistas à Presidência da República com a mesma despreocupação de quem vai tomar um cafezinho na padaria da esquina.
"Não precisa explicar, eu só queria entender..."
É, Sócrates teria muita coisa para tentar entender nesse Supremo Tribunal Federal que surpreende o país a  todo instante.

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