sábado, 5 de janeiro de 2013

O cidadão Zeca Pagodinho


Zeca Pagodinho é um artista popular - cantor, compositor - como poucos no Brasil. Foi responsável, junto com alguns outros, pelo ressurgimento do verdadeiro samba, que havia se disfarçado, lá pelos anos 80, em uma indigesta mistura brega/romântica que foi chamada, indevidamente de "pagode". Zeca tornou-se, com o tempo, referência obrigatória do gênero musical mais representativo da cultura brasileira. Além disso, revelou uma legião de compositores, verdadeiros baluartes do samba.
Ao mesmo tempo em que virava um dos ícones da música popular brasileira, Zeca Pagodinho procurava, sempre que podia, mostrar ao público que o seu sucesso estava ligado às suas raízes suburbanas. Recentemente, gravou um DVD antológico, que denominou "Quintal do Pagodinho", com uma penca de convidados ilustres que reuniu em seu sítio no distrito fluminense de Xerém, essa mesma localidade que foi vítima de uma tromba d'água na madrugada de quinta-feira.
Para surpresa dos repórteres que para lá foram ver as consequências trágicas da chuvarada, um dos mais ativos socorristas em ação era justamente o "morador" mais ilustre de Xerém, ele mesmo, Zeca Pagodinho, que desde a manhãzinha percorria em seu quadriciclo as ruas que haviam sobrado no local.
Nas entrevistas que deu para as emissoras de TV, Zeca foi curto, grosso e emocionado: "É muito ruim ver Xerém assim", disse o sambista em entrevista à TV Bandeirantes. "Tem muita gente pobre, muita gente sofredora e tem o lixo para infernizar mais ainda a vida. Eu tenho carro, mas tem gente que não tem. O único caminho que sobrou é lixo puro. Dá nojo de político, dá nojo dessa gente bandida."
Há informações de que antes da chuva 50 mil toneladas de lixo estavam acumulados em Duque de Caxias, município sede do distrito de Xerém, à espera da coleta, precária desde que o aterro que recolhia os detritos foi fechado.
Tragédias naturais acontecem diariamente no mundo todo. Muitas delas, porém, poderiam ter efeitos menos severos. Para tanto, bastaria que o poder público se empenhasse em fazer a sua parte: impedir construções em áreas de risco, monitorar continuamente as condições meteorológicas, dispor de equipes profissionais de socorro etc etc.
Enquanto isso não ocorre, resta às pobres vítimas dessas tragédias contar com a solidariedade de amigos, parentes e vizinhos.
Ou, como em Xerém, com o desprendimento e a humanidade de um Zeca Pagodinho, craque no samba e craque na vida, que deu a todos nós uma lição de cidadania.

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