terça-feira, 2 de outubro de 2012

O inferno está cheio de boas intenções


Uma das maiores virtudes do governo Lula foi a sua capacidade de conciliar os extremos, de negociar com forças antagônicas, de promover, em larga escala, o entendimento. Embora a marca de seu governo tenha sido a inclusão social, beneficiando milhões de pessoas até então completamente abandonadas pelo poder público, nem a classe média, nem os ricos têm do que reclamar dos oitos anos em que o "lulopetismo" administrou o país.
Ao contrário do tempo em que foi oposição, o PT, quando assumiu o governo, tratou de encontrar o maior número possível de aliados, não só no campo político-parlamentar, mas na própria sociedade, dialogando com as centrais sindicais, movimentos organizados e órgãos empresariais. A criação do "Conselhão" é exemplo desse cuidado de não se isolar no Palácio do Planalto.
Ao contrário de Lula, a oposição sempre procurou o enfrentamento, a colisão, a briga, o atrito, o golpe. Em nenhum momento os tucanos e seus satélites tentaram pelo menos uma convivência civilizada, que implica explicitar as diferenças ideológicas de modo a ressaltar as virtudes de seu modelo e os defeitos do outro.
Ao se atirar de corpo e alma nessa tentativa desesperada de recuperar a cadeira presidencial, a oposição se cegou, fechou os olhos às mudanças que se processavam no país e à própria realidade. Transformou-se num corpo movido apenas pelo ressentimento e ódio contra aqueles que a venceram de modo inquestionável nas urnas.
O discurso contra Lula e o PT, nesses últimos anos, foi se tornando cada vez mais agressivo e irracional. E se engana quem acha que tudo não passa de arroubos de parlamentares ou jornalistas - à persistência dos ataques somaram-se tentativas concretas de defenestrar o ex-metalúrgico do lugar que conquistou a duras penas. O caso do tal mensalão é apenas mais uma dessas tentas crises promovidas por esses setores inconformados e desesperados com o sucesso do "lulopetismo".
Não creio de os 11 juízes do Supremo Tribunal Federal estejam mancomunados para chegar a um veredicto  que desmoralize o PT e alguns de suas lideranças. Acho apenas que, por não passarem de seres humanos com todos os defeitos e virtudes de todos os outros, por serem pessoas absolutamente medíocres, por carregarem em si os mesmos preconceitos que contaminam grande parte da nossa sociedade, por viverem num mundo de fantasia, por essas e outras razões, eles acham que têm diante de si a missão messiânica de transformar um caso sem pé nem cabeça, nascido da delação de uma pessoa desesperada, num divisor de águas sobre a moralidade brasileira.
Acredito até que alguns deles são bem intencionados. Mas a gente deve lembrar que, de acordo com o que diz a sabedoria popular, essa sim a juíza suprema, o inferno está cheio de boas intenções.
A vitória que a oposição canta agora com os resultados desse julgamento pode ser efêmera e até mesmo prejudicial aos interesses dessas forças no futuro.
Mas para quem faz do ódio a sua bandeira, isso é mais que suficiente.

Um comentário:

  1. Evidências de que houve algo fora da LEI nos faz crer que Juízes terão que condenar. A condenação nos trás a sensação de "dever cumprido". Estaremos livres do espelho. Estaremos livres de reconstruir nossos conceitos de certo e errado. Estaremos livres de acreditarmos que podemos ser diferentes. Afinal, no final, todos são iguais. ema@itelefonica.com.br

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