quarta-feira, 3 de outubro de 2012

E a injustiça prevalecerá


Se tem algo que me tira do sério, que não suporto, que me deixa fulo, é a injustiça. Pode ser até de mentirinha, como num filme, por exemplo. Fico mal, o estômago se revira, o sangue sobe à cabeça, faço coisas que nem imaginava ser capaz em condições normais. Ontem, quando vários textos lembraram os 20 anos do infame episódio que ficou conhecido como o massacre do Carandiru, fiquei imaginando o horror de tudo aquilo e lamentando o fato de que, tanto tempo depois, ninguém, absolutamente ninguém, foi punido por tamanha barbaridade.
Daí para pensar nas centenas de pessoas mortas pela mesma polícia em 2007, quando explodiu, em São Paulo, a guerra entre o PCC e a PM, foi questão de minutos. Outra barbárie que ficou sem punição.
Em seguida me veio a cabeça o assassinato da jornalista Sandra Gomide pelo seu ex-namorado, o também jornalista Pimenta Neves, com quem, infortunadamente, trabalhei, no pior período que passei no Estadão. Assassino confesso, ele ficou onze anos solto por aí, fazendo sabe-se lá o quê, enquanto a família de Sandra se acabava...
Hoje, avisam os jornais, o Supremo Tribunal Federal vai começar a julgar a participação de três ex-dirigentes do PT - José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares - no processo do tal mensalão. E a gente já sabe o que vai acontecer, pois o negócio todo não passa de uma armação para humilhar, desonrar e ferir o partido - e por consequência a sua maior liderança, o ex-presidente Lula.
O mesmo sistema judiciário que não puniu ninguém pelo assassinato de mais de uma centena de presos, que deixou solto os policiais que mataram mais de 400 pessoas em 2007, que deixou Pimenta Neves livre 11 longos anos, está prestes a condenar, a expor à execração pública, três líderes políticos cujo único crime foi - se cometeram algum crime - jogar o jogo com as regras existentes.
José Dirceu será condenado porque foi um dos principais construtores do projeto que levou o PT ao governo federal - um projeto que tirou mais de 30 milhões de brasileiros da miséria, que promoveu o crescimento econômico do país, que diminuiu consideravelmente a degradante desigualdade social e levou a nação a ser reconhecida internacionalmente como uma potência.
José Genoino será condenado porque foi um dos principais responsáveis por costurar a aliança partidária que sustentou o governo Lula, numa demonstração de que, num sistema democrático, é perfeitamente possível que forças de diferentes ideologias convivam e ajudem a levar adiante um projeto político.
Delúbio Soares será condenado porque teve de se virar para tornar viável a construção desse intrincado e enorme edifício.
Sei que muitos torcem para que os três sejam não só condenados e cumpram longas penas, mas que sejam esquartejados e tenham as partes de seus corpos salgadas e expostas à sanha popular, como se fazia há centenas e centenas de anos, quando a civilização ainda dava seus primeiros passos.
Para essas pessoas, para esses que elegeram o coronel Ubiratan deputado, para esses que vibram com a Justiça que manda prender pobres, pretos, putas - e agora petistas -, Zé Dirceu, Genoino e Delúbio não passam de criminosos comuns, chefes de quadrilha, corruptores e corruptos, figuras execráveis que devem ser banidas não só da política, mas da própria sociedade.
Quanto a mim, que abomino a injustiça mais do que qualquer coisa, vejo nesse julgamento o exemplo mais acabado de quanto o ser humano pode ser cínico.
Gostaria, sinceramente, de acreditar que aquelas figuras que se tratam por excelência e se obrigam a trabalhar usando as tais capinhas pretas ridículas, promovem a Justiça.
Mas sei que, por tantos e tantos antecedentes, elas são apenas a expressão mal disfarçada dos ódios e preconceitos que habitam secularmente as nossas elites, essa gente que realmente manda no país e faz de tudo para não perder os seus privilégios.

6 comentários:

  1. Para fazer a necessária inclusão social não é necessário corromper, lavar dinheiro, formar quadrilha e comprar deputados.

    ResponderExcluir
  2. Seu post foi extremamente infeliz. Existem provas e mais provas que todo o apoio foi comprado, o que é crime no país. Não existe perseguição política já que vários dos ministros foram indicados pelo próprio PT. Uma pena ter que ler esse tipo de post de alguém como você. Lamentável.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns,

    Seu corajoso comentário é excelente e reflete a indignação de milhões de pessoas que sofre da mesma forma que você uma indignação contida que clama por se expressar.
    Não desanime diante dos que não compreendem a realidade que os cerca. Talvez, algum dia, quando forem vítimas desta mesma hipocrisia judicial e policial, entendam o que dizes.

    ResponderExcluir
  4. Senhores Carlos Eduardo e Bruno Gil, a justiça seria feita se já estivessem condenados e presos o Senhor fernando Henrique Cardoso, Senhor Eduardo azeredo, que COMPROVADAMENTE compraram votos, corromperam funcionários públicos, desviaram recursos públicos. Portanto, se houvesse um antecedente de condenação para estes crimes que estão sendo imputados aos dirigentes petistas (sem provas). Mas, esquecer que isto tudo já foi feito sem punição e agora começar a punir só porque são petistas? E, pior, não acredito que isto vá se repetir no futuro. Este é um julgamento de excessão. Como não se indignar com tal injustiça?

    ResponderExcluir
  5. Concordo em gênero grau e número.
    Dá até preguiça sair de casa e trabalhar para ver apenas estes aristocratas ou castas nos carros chapa preta.
    É triste

    ResponderExcluir
  6. Odete, não existe nenhuma prova contra FHC, apenas insinuações e ilações e o fato aconteceu há 15 anos. E fez muito bem ele em aprovar a reeleição com mandato de 4 anos, tanto é assim que o PT não mandou desfazer, pelo contrário utilizou essa regra para se reeleger.

    Quanto ao mensalão tucano, ele efetivamente ocorreu e o valor envolvido são 5 milhões de reais, o PT, no poder e que prometeu um Brasil decente, incrementou, potencializou, capitalizou o mensalão em nível federal e com valores muito, muito superiores.

    ResponderExcluir