domingo, 5 de agosto de 2012

A piada do Gurgel

Gurgel: que lógica é essa?       (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
E então, eis que meus olhos cansados se deparam com o seguinte parágrafo em uma notícia da Agência Brasil:
"Gurgel concordou que há provas pouco robustas contra quem chamou de 'principal figura de tudo que apuramos' e 'o grande protagonista' do mensalão, mas atribuiu o fato ao papel de liderança que Dirceu exercia. 'Como quase sempre ocorre com chefes de quadrilha, o acusado não aparece nos atos de execução do esquema', justificou."
Só para esclarecer: Gurgel é o procurador-geral da República, Roberto Gurgel; Dirceu é José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula.
Posto isso, o distinto público há de reparar que existe uma certa semelhança física entre o nosso Gurgel e o apresentador de televisão Jô Soares, que já foi, muito tempo atrás, um celebrado comediante.
Está certo, também, que o julgamento do tal mensalão pelo Supremo Tribunal Federal está mais para um show televisivo do que para uma sessão tradicional da mais alta corte judiciária do país.
Nem por isso, creio, o nosso distinto Gurgel deveria, como se diz, "entrar no clima", e tentar transformar algo que se supõe sério numa pantomina descarada.
Uma coisa é parecer com Jô Soares; outra, bem diversa, é agir como ele.
Pois não há como não encarar como uma piada o seu argumento de que ele, procurador-geral, acusador-mór, não conseguiu reunir provas robustas contra quem denomina "principal figura de tudo que apuramos" e "grande protagonista" do tal mensalão pelo simples fato de que tal personagem é o "chefe da quadrilha".
Se uma lógica dessas, fico pensando, fosse aplicada pelos tantos procuradores que existem por aí, as prisões estariam vazias.
Afinal, como na piada de Gurgel, seria impossível reunir provas contra os chefões do crimes porque eles não gostam de se expor publicamente, preferem o anonimato, não vivem dando entrevistas sobre as suas atividades, não andam por aí distribuindo cartões de visita com seus nomes e funções no bando destacados em letras gravadas a ouro.
Pela lógica do nosso Gurgel, só é possível reunir provas contra os chefões do crime se eles não forem os chefões.
É de morrer de rir.
Conta outra, Gurgel.

2 comentários:

  1. Uma lógica meio torta, esta.
    Cachoeira é, indiscutivelmente, o líder de uma quadrilha que assolou (assola) Goiás e amplos setores políticos do país e contra ele as provas são abundantes e incontestáveis.
    Aliás, porque o Senhor Gurgel retardou a propositura da ação penal contra Cachoeira e "sentou em cima" da investigação denominada Las Vegas?

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  2. Gilmar, Joaquim, Gurgel, Marco Aurélio... e ainda falam mal do Legislativo.

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