domingo, 5 de agosto de 2012

O maestro do Brasil


Mais preocupada em promover o linchamento de algumas figuras políticas do PT e aliados no caso que impropriamente denominou de "mensalão", a imprensa nativa tem cometido imperdoáveis equívocos nesses últimos dias - um pouco além da conta habitual.
Um deles foi praticamente omitir a morte de um dos gigantes da música popular brasileira, o maestro, compositor e clarinetista Severino Araújo, fundador e líder da Orquestra Tabajara, um monumento artístico como poucos que já surgiram por estas terras.
Severino se foi, aos 95 anos de vida, incomparável em talento e dedicação à arte musical.
A Tabajara permanece, firme e forte, sob a batuta do irmão Jaime, que há cinco anos já assumira a regência da usina mágica de sons que vem encantando gerações de brasileiros desde a longínqua década de 30.
Claro que existem pessoas muito mais qualificadas para falar da importância de Severino Araújo e da Tabajara para a música brasileira que este humilde cronista.
Não poderia, porém, deixar de registrar o acontecimento, por mais triste que ele seja, como sinal de respeito e agradecimento por tantos momentos únicos que seus arranjos e composições me proporcionaram, por todo o deleite causado pela explosão de ritmo e melodias dos metais dos músicos que conduzia.
Severino, genial, provou como nenhum outro que é possível elevar a arte feita no Brasil à condição de universal. Sob a sua regência, os choros, frevos e sambas assumiram dimensão única e linguagem capaz de empolgar qualquer habitante da Terra, desde um esquimó a um beduíno.
Música para dançar, para cantar, para o cérebro e o corpo.
Jamelão e Elizeth, Zé Bodega e K-Ximbinho, Espinha de Bacalhau e Rhapsody in Blue, trompetes, saxofones, trombones e percussão.
À frente, o corpo todo se balançando e dançando como uma batuta viva, o clarinete como uma voz poderosa, um instrumento feito para surpreender, enternecer, tocar os céus, Severino, o maestro do Brasil.

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