sábado, 30 de junho de 2012

Apucarana quer rezar


No mesmo dia em que o IBGE revelou que o número de pessoas que se declara sem religião aumentou de 12,5 milhões (7,3% do total) no ano 2000 para mais de 15 milhões (8% do total) em 2010, os jornais noticiam que vereadores da cidade paranaense de Apucarana aprovaram, em primeira discussão, projeto de lei que determina que o Pai-Nosso seja rezado diariamente antes do início das aulas, em todas as escolas do município. 
Segundo a nota da Folha, todos os 11 vereadores da cidade, de 120 mil habitantes, foram favoráveis ao projeto, que será  votado novamente na segunda-feira (2). Se for aprovado novamente, segue para a sanção ou veto do prefeito. O autor do projeto, José Airton Araújo (PR), é membro da igreja Assembleia de Deus. Segundo ele, a obrigatoriedade da oração pode ajudar a diminuir casos de indisciplina e de desrespeito de alunos a professores. 
O vereador ignorou o fato de que a Constituição Federal  estabelece que  o Estado brasileiro é laico. Para ele, nada melhor para ensinar do que rezar. "O Estado é laico, mas o cristianismo prevalece entre a maioria da população e além disso, o aluno que não quiser participar da oração não será obrigado", argumenta. O projeto de lei, pelo menos, não prevê punições a instituições de ensino que não instituírem a oração. 
O caso de Apucarana chama a atenção não só pela estupidez da proposta, flagrantemente inconstitucional, mas pelo fato de o projeto ter sido aprovado por unanimidade, que leva a supor que os vereadores da cidade não têm a menor noção das leis do país em que moram e que, se dependesse deles, o Brasil se transformaria num enorme Irã, governado não por aiatolás, mas por bispos e pastores e toda espécie de fanáticos religiosos. 
Esse caldo de ignorância é um fermento poderoso para atrasar o desenvolvimento cultural do país. Os resultados do Censo Demográfico 2010 estão aí para mostrar que, graças à disseminação indiscriminada nos meios de comunicação, principalmente rádio e televisão, os grupos evangélicos foram o segmento religioso que mais cresceu no Brasil entre o ano 2000 e 2010. Em 2000, eles representavam 15,4% da população. Em 2010, chegaram a 22,2%, um aumento de cerca de 16 milhões de pessoas (de 26,2 milhões para 42,3 milhões). Em 1991, este percentual era de 9,0% e em 1980, 6,6%. Já os católicos minguaram, passando de 73,6% em 2000 para 64,6% em 2010.
Embora o perfil religioso da população brasileira mantenha, em 2010, a histórica maioria católica, essa religião vem perdendo adeptos desde o primeiro Censo, realizado em 1872. Até 1970, a proporção de católicos variou 7,9 pontos percentuais, se reduzindo de 99,7%, em 1872, para 91,8%. Essa redução no percentual de católicos ocorreu em todas as regiões, tendo sofrido queda menor no Nordeste (de 79,9% para 72,2% entre 2000 e 2010) e no Sul (de 77,4% para 70,1%).
A maior redução ocorreu no Norte, de 71,3% para 60,6%, enquanto os evangélicos, nessa região, aumentaram sua representatividade de 19,8% para 28,5%. Entre os Estados, o menor percentual de católicos foi encontrado no Rio de Janeiro, 45,8% em 2010. O maior percentual era no Piauí, 85,1%. Em relação aos evangélicos, a maior concentração estava em Rondônia (33,8%), e a menor no Piauí (9,7%).

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