quinta-feira, 12 de abril de 2012
O gosto do próprio veneno
As manchetes dos jornalões dizem tudo, deixam escancarada a tática para abafar ou tumultuar o maior escândalo de corrupção já visto na história recente do país, por envolver um senador da República. O plano que está sendo levado em ação é tão simples que parece ter sido improvisado - se não há mais jeito, se as provas contra o nosso querido Demóstenes são incontestes, vamos tentar implicar quem a gente puder, mas principalmente quem é da base do governo, na sujeira espalhada por Carlinhos Cachoeira.
E assim fazendo, vale tudo, qualquer trecho de conversa entre uma autoridade e pessoas ligadas ao esquema criminoso, nem que seja o mais inocente bom dia.
O que importa é o título da matéria: "Gravação da PF revela que fulano está implicado com esquema de Cachoeira".
Notem bem o uso das palavras. São todas fortes, para não deixar dúvida de que a bobagem que vem a seguir no texto é algo sério, comprometedor, definitivo. "Gravação", "PF", "esquema"...
Com o mínimo de competência, o redator transforma qualquer notícia idiota e despretenciosa numa bomba.
Atira-se para todos os lados, de todos os jeitos, com a intenção de fazer o maior número de vítimas, para desviar o fogo do alvo principal.
É uma estratégia desesperada, de quem foi pego de surpresa na ilicitude.
E, pior, revela que todos esses arautos da moralidade - a imprensa, obviamente, incluída - no fundo não querem que nada mude no país, preferem mesmo que ele continue sendo terrenos fértil para o cultivo da corrupção, entre tantos outros males.
Se estivessem mesmo dispostos a combater essa praga, como vivem apregoando, teriam, neste momento, uma atitude muito mais séria, muito mais responsável.
Em vez disso, preferem usar o velho expediente de acusar sem provas e condenar sem julgamento as pessoas que elegem como inimigas.
É o assassinato de reputações, tão execrável quanto o verdadeiro.
Esse indivíduos se esquecem, porém, de um detalhe trivial: ao agir desse modo estão validando uma guerra sem regras, e assim o fazendo, dão permissão a seus inimigos para se valer das mesmas armas contra eles.
A vida está cheia de exemplos disso. Demóstenes foi apenas um a mais que experimentou o seu próprio veneno. Outros, com tanta ou maior eloquência, com tanto ou superior desprezo pelo antagonista, com tanta ou maior arrogância, com tantas ou até mais fortes frases de efeito que se tornam sentenças condentaórias, certamente também serão, um dia, pegos na mentira.
E aí, terão de se calar, de enfiar o rabo entre as pernas, e sair de cena, mudinhos.
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