segunda-feira, 16 de abril de 2012

A hora H


O caso Demóstenes/Cachoeira é um excepcional pretexto para que a jovem democracia brasileira amadureça. Isso, claro, se neste país existirem pessoas interessadas em que isso ocorra.
O problema todo é que há muitos envolvidos, muitos suspeitos, muitas instituições que deveriam zelar pelo cumprimento da lei e acabaram se envolvendo com o crime.
O problema todo é que há interesse demais em que se confunda tudo - réus podem passar a ser vítimas, escroques se tornar paladinos da Justiça e covardes virar heróis.

E a imprensa?
Entre tantos envolvidos na confusão, um dos maiores interessados em que tudo se esclareça deveria ser a imprensa. Afinal, sobre ela, sobre tantos veículos importantes e jornalistas famosos, pesam acusações seríssimas de que o esquema criminoso ditou pautas, escreveu reportagens e manchetes, numa associação que conspurca a reputação de várias empresas e profissionais.
Durante anos, tudo indica, parte da imprensa foi alimentada pelo crime organizado, que atendeu seus interesses em criar escândalos e mais escândalos que pudessem enfraquecer o governo petista.
Essa banda podre ficará impune?

Chapas-brancas
No contra-ataque orquestrado pela associação imprensa-criminosos para impedir ou, no mínimo, desqualificar uma eventual CPI sobre o caso, acusa-se os blogs que sempre estiveram na defesa do governo petista de "chapas brancas" e de serem patrocinados pela União.
Os alvos principais são os jornalistas Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim e Luis Carlos Azenha, que têm os sites de maior prestígio e audiência. A acusação, porém, chega a ser patética - o dinheiro que Veja, Globo, Estadão, Folha e toda a imprensa corporativa e oligopolizada do país recebe do governo federal deve ser, por baixo, um zilhão de vezes maior do que tudo o que as centenas de sites e blogs que não rezam a cartilha neoliberal recebem. Se juntar toda a verba destinada a esse pessoal, garanto, não dá para sustentar a redação de um jornaleco de bairro.

Absurdos
Os textos que se lê nos jornalões são tão absurdos na sua ânsia de criticar tudo o que o governo federal faz  que não resistem a mais elementar noção de lógica.
Outro dia, Estadão ou Folha, não me lembro mais qual, chegou ao cúmulo de escrever que Banco do Brasil e Caixa não estavam cumprindo com a promessa de baixar seus juros. Prova disso, estava lá no jornal, é que determinada taxa só estaria disponível dos clientes dos bancos.
Ora, o jornal queria o quê? Que Caixa e Banco do Brasil emprestassem dinheiro a juros baixos para quem não é cliente?
Guardadas as proporções, seria mais ou menos como querer que Folha ou Estadão dessem brindes a quem não assina os jornais.
Coisa de louco...

Farinha do mesmo saco
A mais elementar das estratégias para deixar tudo como está, para que o país continue a ser este imenso campo propício ao cultivo da corrupção e todos os crimes correlatos, é confundir todo o processo de apuração, jogar lama - para não dizer coisa mais mal cheirosa - para todos os lados, com o objetivo de que fique estabelecido que todos os políticos não prestam, que todos os partidos só têm compromisso com o poder - e de posse dele, consigam toda a vantagem pecuniária possível.
Mas basta que o PT não aceite esse jogo, que banque a CPI e deixe a investigação fluir, para que essa tática desmorone. E, se for constatado que há ladrões em seus quadros, que os deixe queimar no fogo do inferno, que eles bem que merecem isso.

Espécie ameaçada
Além dos seus protagonistas, o escândalo Demóstenes/Cachoeira tem como pano de fundo as eleições municipais deste ano.
A única chance do DEM sobreviver como agremiação política é vencer em Salvador, e o resultado de São Paulo terá reflexos fortes na corrida presidencial: a vitória de José Serra, antes de um triunfo pessoal, servirá como alento para toda a oposição.
Também por essas razões os oposicionistas - incluindo na turma a imprensa corporativa - andam tão nervosos nestes dias.
Afinal, são uma espécie ameaçada.

Davi e Golias
Os Estados Unidos, com a ajuda do Canadá, vetaram a participação de Cuba na próxima Cúpula das Américas.
A presidente Dilma Rousseff, em sua recente viagem a Washington, declarou que esta seria a última reunião sem a presença dos cubanos. Devido à posição americana - e canadense -, a reunião terminou sem uma declaração consensual sobre o fim do isolamento da ilha caribenha, uma titica com 10 milhões de habitantes que sofre há 50 anos o embargo econômico dos EUA. E assim, com atitudes como essas, o Brasil cada vez mais se torna importante e respeitado no cenário mundial e os Estados Unidos são cada vez mais odiados.

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