quinta-feira, 26 de abril de 2012

Assim na China como no Brasil


O jornal The New York Times informa que a  queda do dirigente do Partido Comunista chinês Bo Xilai, que era apontado como um sério concorrente à sucessão de Hu Jintao na presidência do país, está relacionada a grampos telefônicos encomendados por ele, e não à sua ambição pelo poder, como se dizia. Segundo o jornal, quando Hu Jintao telefonou para falar com um oficial anticorrupção que visitava Chongqing, o mais populoso dos quatro municípios chineses que têm o status de província e era governado por Bo Xilai, foi detectado que a ligação estava sendo grampeada por oficiais locais.
Antes dessa revelação se acreditava que o PC chinês havia defenestrado Bo por causa de uma briga interna e pelas acusações de que sua mulher havia assassinado o consultor inglês Neil Heywood. Pelo que tudo indica, os chefões do PC juntaram tudo e acabaram, sem choro nem vela, com a carreira política meteórica de Bo Xilai.
O episódio nos remete a outro caso de grampo ocorrido no Brasil, um caso sui generis, já que a escuta do grampo, embora tenha sido revelada pela revista Veja - sempre ela! - nunca foi ouvido. Ou seja, era um grampo sem áudio!
O episódio causou uma grave crise institucional envolvendo o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Para quem não se lembra, o resumo da ópera é o seguinte: o senador Demóstenes Torres e o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, acusaram o SNI de ter gravado uma conversa entre eles, uma bobagem qualquer. Fizeram um escândalo. O diálogo foi reproduzido pela Veja. Mendes se indignou e chamou às falas o presidente Lula. A revista insistiu no tema e produziu uma capa para mostrar que o Brasil era uma "república dos grampos".
Hoje, quando há fortíssimas suspeitas de que o senador Demóstenes era, nada mais, nada menos, que integrante de uma quadrilha criminosa, e a revista Veja viveu anos das informações passadas pelo chefão da gangue, esse episódio do "grampo sem áudio" é revelador do quanto as nossas instituições são ainda frágeis, como as nossas autoridades são titubeantes e como o crime organizado influencia a vida do país.
A Polícia Federal investigou o caso na época e chegou à conclusão de que o tal grampo existia apenas na imaginação de Demóstenes, de Mendes e da Veja. E tudo ficou nisso. Nada se fez para descobrir o autor do diálogo que abrilhantava as páginas de Veja e nem se cogitou a possibilidade de tudo aquilo não passar de uma armação para estragar outras investigações sobre peixes graúdos que estavam em curso, a mais famosa delas a Satiagraha, que pegou o notório Daniel Dantas em suas redes.
Muito se fala das diferenças entre o Brasil e a China. São, de fato, inúmeras, mas principalmente culturais. Infelizmente para nós, estamos acostumados e até gostamos de cultivar o "jeitinho", essa atitude que acomoda as coisas, que joga a sujeira para debaixo do tapete.
Já a China... Pelo que a gente lê por aí, embora lá existam os mesmos problemas éticos e morais daqui, como, por exemplo, a corrupção, parece que as coisas se resolvem de outra maneira, bem mais rápida e definitiva.
O ambicioso Bo Xilai que o diga...

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