Teixeira: quem conseguirá mudar o que deixou? (Marcello Casal Jr/ABr) |
Não tenho dúvida de que, em breve, Ricardo Teixeira, o ex-presidente da CBF, estará de volta aos noticiários - não o esportivo, mas o policial.
Afinal, as duas décadas que passou comandando o futebol brasileiro lhe ensejaram transitar com total desenvoltura num mundo repleto de negociantes de todos os tipos, e principalmente daqueles que trocaram a legalidade por uns zeros a mais em suas transações.
O legado de Teixeira ao futebol brasileiro é proporcional às confusões extra-campo em que andou metido nesses anos todos.
A seleção ganhou as Copas de 1994 e 2002 durante a sua administração, assim como o Campeonato Brasileiro foi fixado no sistema de pontos corridos, como a maioria desejava, exalta o cartola aposentado em sua carta de despedida.
Grande coisa.
As conquistas da seleção foram muito mais em função da excelência do trabalho dos atletas e da comissão técnica do que do planejamento da CBF.
Ou todos já se esqueceram que foi Teixeira quem contratou Leão, Falcão, Lazaroni e Dunga para comandar a equipe?
Ele deu sorte com Parreira, um teórico cuja maior virtude é não atrapalhar os jogadores, e Felipão era, na época, uma escolha óbvia.
Quanto ao Brasileirão, o problema não é a sua fórmula, nem a sua duração, mas sim o fato de que uma emissora de TV detém a exclusividade de sua transmissão.
Isso não é bom nem para os clubes, nem para os torcedores, nem para nenhuma outra rede de TV que não seja a Globo. E nem para os jogadores, os protagonistas do espetáculo.
O que Teixeira fez nos 23 anos em que dirigiu a CBF com mão de ferro foi multiplicar os patrocínios da seleção, tirá-la do povo e entregá-la a corporações multinacionais.
Com tantos processos rolando na Justiça - brasileira e internacional - é fácil deduzir os motivos que o levaram a investir tanto no marketing.
A maior contradição de sua gestão é essa, portanto: uma seleção milionária e tantos clubes, do Brasil inteiro, miseráveis, com dívidas fabulosas, impagáveis.
E um calendário com praticamente apenas duas competições: o suntuoso Brasileirão da série A, e a mambembe Copa do Brasil.
Fora isso, os desprestigiados, esfarrapados, campeonatos das série B e C.
Pouco, muito pouco, para o país do futebol.
Teixeira se foi para cuidar dos problemas que inevitavelmente terá com a Justiça.
Mas fica de pé, inteira, toda a estrutura que montou. Uma sólida construção que não permite nem ao mais otimista cidadão vislumbrar tempos melhores para a gestão do futebol brasileiro.
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