segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Erros plenamente justificáveis


Nesses meus 40 anos de profissão já li e editei textos de todos os tipos, desde os mais simplórios e desarticulados até aqueles praticamente "incortáveis", tal a perfeição com que foram escritos.
"Fechei" matérias sobre os assuntos mais variados, bobagens que fiz questão de esquecer minutos depois de corrigí-las no que foi possível, até amplas e profundas reportagens.
O que pude constatar dia após dia desse trabalho é que hoje se escreve muito pior do que antes. Sobre vários aspectos.
Como a especialização avançou absurdamente no jornalismo, muitos profissionais, novos e até experientes, se contentam em fazer textos herméticos, dedicados apenas a um (im)provável leitor também especializado.
Usam a abusam de termos incompreensíveis para a grande maioria das pessoas, muitos deles com o significado alterado.
Quem, entre os que acompanham o noticiário econômico, já não leu pérolas do tipo "praticar preços", "câmbio valorizado", "jornada semanal de trabalho" e outros disparates?
Felizmente para os autores dessas maravilhas, a língua é um organismo vivo, e de tanto insistir no seu uso, mais dia, menos dia, os dicionários acabam incorporando essas aberrações.
Pior do que isso, porém, é quando o profissional escreve uma coisa quando quer dizer outra. Esse é um dos piores erros que se encontram nos textos jornalísticos.
Há muitos exemplos disso. Só para citar um, basta ler o que se escreve sobre a situação da Síria, país que está à beira de uma guerra civil. Os opositores do regime são tratados pela nossa imprensa como "manifestantes". Mas quem já viu algum "manifestante" usar foguetes contra instalações governamentais, ou formar um exército rebelde? Na verdade, eles podem ser tudo, menos "manifestantes".
Esse é apenas um entre tantos casos em que o erro linguístico se confunde com a posição editorial.
É que às vezes é mais conveniente para os nossos jornalões ignorarem todas as regras da gramática, todos os ensinamentos dos mestres, a mais banal lógica, enfim, simplesmente porque têm outros objetivos em vista, que não são, digamos, claramente identificáveis com os de uma imprensa livre e democrática.
Quando confundem meras acusações com processos já julgados, quando tratam simples denúncias como fatos ocorridos, quando condenam sem provas autoridades públicas ligadas ao governo federal, quando deturpam declarações e sonegam informações contraditórias, quando publicam o mais execrável lixo que o jornalismo é capaz de produzir, os nossos jornalões não estão cometendo nenhum erro que possam, futuramente, corrigir.
Estão simplesmente cumprindo a sua função de agir como a arma mais eficaz do arsenal que as forças reacionárias dispõem em sua guerra para retomar o poder.
Por isso os responsáveis pela fina flor do jornalismo pátrio pouco se importam com os erros que suas publicações cometem.
Seus manuais de redação podem omitir o princípio de que os fins justificam os meios, mas todos nós sabemos que esses manuais são mesmo feitos para serem descumpridos.

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