quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Guarda civil, não Polícia Militar
Impressionante como a imprensa rapidamente tomou posição nesse caso da USP. Vários colunistas não tiveram dúvidas em classificar os alunos que ocuparam o prédio da reitoria e de lá foram arrancados à força por centenas de parrudos e bem armados policiais como "bagunceiros", "arruaceiros", "mimados" e até a suprema ofensa - "maconheiros".
Nenhum deles se deu ao trabalho de explicar aos seus leitores as razões que levaram a estudantada a radicalizar o movimento - a prisão de três deles que estavam fumando maconha na USP foi apenas a fagulha que fez o barril de pólvora explodir.
Nossos valorosos articulistas, tão cheios de ideias, tão posudos em seus comentários sobre causos e coisas, poderiam dizer aos queridos leitores que a situação chegou onde chegou exatamente porque a Polícia Militar age no campus universitário como se estivesse agindo na mais promíscua e perigosa área da cidade, abordando funcionários e estudantes desnecessariamente, com a sua habitual polidez e educação, "enquadrando" qualquer um que ache suspeito - e para os PMs qualquer um que fuja ao padrão terno e gravata que eles estabeleceram como "do bem" é altamente suspeito e, portanto, digno de levar umas bordoadas.
Talvez agora que o estrago já foi feito, que dezenas de relatos aparecem na blogosfera para mostrar como a PM atua na USP, se discuta seriamente a necessidade da presença no campus de uma força policial-militar despreparada para atuar na vida democrática - um incômodo restolho da ditadura encravado no corpo social.
E, se essa discussão for séria, talvez os nossos governantes descubram que a cidade, o Estado, o país todo precisa de uma nova forma de agir na segurança pública, que o termo "Polícia Militar" é inadequado para uma corporação que pretende defender a sociedade dos transgressores da lei, que se supõe uma minoria. O que a sociedade necessita é de menos militares e de mais policiais, de menos força bruta e de mais inteligência.
Uma corporação formada por profissionais preparados, com salários decentes, que atue no estrito cumprimento das leis, que saiba que a maior riqueza do homem é a sua dignidade, que respeite todos - os de terno e gravata e os maltrapilhos - igualmente, seria extremamente bem-vinda.
Com uma polícia assim, garanto, até os estudantes da USP ficariam contentes.
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