domingo, 7 de agosto de 2011

Os EUA rebaixados


Está aí o resultado de uma política econômica equivocada, que deu privilégios ao "mercado", deixando-o, mais uma vez, fazer o que bem entende, abdicando do poder regulador do Estado: a agência de classificação de risco Standard and Poor's rebaixou a nota da dívida americana de longo prazo de AAA para AA+. Essa foi a primeira vez na história que a agência classificou a dívida dos Estados Unidos abaixo do nível máximo.
A Standard and Poor's considerou que o acordo fechado entre o governo americano e o Congresso para elevar o teto do endividamento do país não foi suficiente para reduzir a preocupação com o futuro da economia dos EUA. "O rebaixamento reflete a nossa opinião de que o plano de consolidação fiscal que o Congresso e o governo recentemente fecharam não atinge o objetivo do que, ao nosso ver, seria necessário para estabilizar a dinâmica da dívida do governo a médio prazo", diz um comunicado da Standard and Poor's.
"De maneira mais ampla, o rebaixamento reflete a nossa visão de que a eficiência, a estabilidade e a previsibilidade da elaboração de políticas americanas e das instituições políticas enfraqueceram em um momento de desafios correntes fiscais e econômicos."
Analistas dizem que o rebaixamento pode corroer ainda mais a confiança dos investidores externos na economia americana, que já enfrenta dificuldades para sair da recessão, com enormes dívidas e uma taxa de desemprego de 9,1%, considerada alta para o país.
Na semana foram registradas quedas em vários mercados em meio a uma crise de confiança sobre a resposta da zona do euro para a crise e a lentidão da recuperação das economias europeias e americana.O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tentou tranquilizar os mercados globais, dizendo que "as coisas vão melhorar". "Vamos atravessar isso juntos. As coisas vão melhorar", disse ele, que comentou os dados divulgados sexta-feira que mostram que foram criados 117 mil empregos no país, reduzindo o desemprego de 9,2% para 9,1%.
O diário alemão "Financial Times Deutschland" publicou em sua edição de sexta-feira depoimentos de cinco especialistas a respeito das razões da atual crise. Entre as respostas, estão as "decisões insatisfatórias da cúpula da UE há duas semanas" e as "discussões a respeito da dívida pública" na Europa e nos EUA. Esses indicadores e as previsões negativas para as economias ocidentais são, na opinião dos especialistas, os responsáveis pelas quedas nas bolsas.
Andreas Rees, economista-chefe do UniCredit na Alemanha, pelo contrário, está convencido de que os atuais tropeços das bolsas também teriam ocorrido com orçamentos públicos saudáveis tanto nos EUA quanto na Europa. "Mesmo sem a crise das dívidas teríamos tido uma desaceleração da economia mundial", escreve Rees em sua análise, justificando a tendência de queda com "um ritmo mais lento do crescimento econômico nos países emergentes".
Segundo ele, as razões disso estão, entre outros, no aumento dos juros de muitos bancos centrais e nos altos preços dos alimentos. Rees faz conclusões sombrias: embora não conte com uma recessão mundial imediata, ele diz esperar "tempos difíceis" para a economia mundial. "Mesmo que a crise das dívidas não tenha, de fato, desencadeado a situação atual", conclui ele, "ela, neste momento, faz tudo menos ajudar".
Quando o índice da bolsa atinge um nível baixo, o caminho para cima é difícil. Se o valor de uma ação cai, ela começa a ser rejeitada - isso acontece automaticamente, visando minimizar as perdas. E tudo ganha rapidamente a dinâmica de uma avalanche. Para evitar o pior, existe a possibilidade de suspender as negociações, visando dar ao mercado a chance de se recuperar. Nesta semana, as bolsas não chegaram a esse ponto.
Embora alguns observadores falem em "crash da bolsa", há analistas que estão vendo a atual situação como bem menos preocupante. Para Guido Hoymann, responsável pelo mercado de ações no banco Metzler, uma coisa é clara: "Não se trata de um crash". Hoymann acredita que a queda atual das bolsas não passe de uma correção. Segundo suas declarações ao jornal alemão "Handelsblatt", trata-se "de um ajuste à realidade das altas expectativas dos investidores".
É preciso ter cautela na hora de analisar previsões, principalmente quando o assunto é o comércio de ações. Pois num campo de negócios em que a imaginação e as expectativas desempenham um papel tão importante, não se deve olhar com pessimismo para o futuro. Declarações de que a instabilidade dos mercados não seria tão má assim podem estar a serviço de certo otimismo de plantão, sugerido por gente que não quer pôr em risco seus próprios negócios.
Mesmo assim, há analistas notadamente otimistas. Christian Kahler, coordenador de estratégias do DZ Bank, afirmou ao jornal "Handelsblatt" que a queda das bolsas seria apenas uma "correção de curso". Segundo ele, a bolsa "correu um pouco à frente, o que está sendo corrigido agora". Melhor ainda: Kahler espera para o último trimestre de 2011 uma recuperação da economia, com "tendência crescente".
Mas há algo que desperta esperanças de um processo de tranquilização dos mercados: a maioria dos observadores parte do princípio de que as atuais quedas das bolsas, com a lamentável política monetária de Washington e Bruxelas, têm razões políticas. Ou seja, a baixa seria um "fato político". E influências políticas, acredita pelo menos a maioria dos investidores, só exercem efeitos de curto prazo e comparativamente mais suaves sobre o mercado.
"Baixas políticas têm pernas curtas", reza uma das sabedorias populares entre investidores. Se esse for o caso agora, tudo deverá retomar seu curso normal em breve. No momento, aguarda-se com ansiedade o clima das bolsas na segunda-feira, quando elas voltam a ser abertas. Caso as baixas continuem, será justificado usar a palavra "crash". (Com informações da BBC e da Deutsch Welle)

Um comentário:

  1. Equanto não se colocar rédeas curtas nos tais mercados e fazer os principais responsáveis pela crise pagar a conta o negócio só tende a piorar .
    Deixar o galinheiro entregue as raposas das finanças nunca foi uma boa idéia , quem não se lembra de 1929 ?

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