sexta-feira, 8 de julho de 2011

O fantasma de Alfaiate

Walter Alfaiate: seu ectoplasma teve problemas no microfone

No mesmo dia em que, na bela Paraty, o venerável Antonio Cândido, no alto de seus 92 anos de sabedoria, proclamava o fim da crítica artística no país, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro um jornalista da Folha assistia à cerimônia do 22º Prêmio da Música Brasileira e depois anotava em sua a matéria que a "a elegante dupla de veteranos Walter Alfaiate e Tantinho da Mangueira teve problemas no microfone, mas conseguiu animar a plateia com duas das canções mais populares de Noel, Conversa de Botequim e Com que Roupa?".
Os problemas, porém, foram além do microfone. Pelo menos no caso do crítico-repórter da Folha, que deve, além de ser mal informado, sofrer com problemas de visão e audição.
O caso é que Walter Alfaiate morreu há bem mais de um ano e meio, depois de uma vida plena de bons serviços prestados ao samba, ao lado de parceiros como Mauro Duarte, Délcio Carvalho, Wilson Moreira, Zorba Devagar e Martinho da Vila, entre outros.
Na Folha.Com, que registra o terrível engano, há ainda uma galeria de fotos da festa musical. E, numa delas estão, lado a lado, Tantinho da Mangueira e ... Wilson das Neves - outro sambista histórico, baterista de batida suave e  marcação exata, preferido de inúmeros craques da MPB, além de fino compositor e intérprete. Outra lenda, viva.
Erros são a coisa mais comum no jornalismo brasileiro. Para justificá-los existe sempre o álibi da pressa, eterna  inimiga da perfeição.
Mas esse caso do fantasma de Alfaiate é exemplar. Escancara, de forma definitiva, a indigência da imprensa nativa. Tanto a generalista quanto a que se diz especializada.
A crítica de Antônio Cândido deveria reverberar fundo na consciência de quem dirige as redações. Infelizmente, pelo tom com que as matérias assinalaram sua participação na Flip, ele hoje é visto mais como um saudosista incorrigível do que como um sábio a quem as gerações mais jovens seriam obrigadas a ouvir.

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