A culpa é do capitalismo

O debate persistente sobre a desindustrialização da economia brasileira, que chegou ao sindicalismo de ponta - a megamanifestação dos metalúrgicos do ABC em prol da empresa nacional é exemplo claro-, vai além da questão circunstancial, que são o avanço avassalador da China sobre todo o mundo e o desequilíbrio cambial do Brasil.
No fundo, no fundo mesmo, o que se tem de tratar aqui é o próprio modelo capitalista que perdura no país. É ele, e só ele, com todas as suas profundas contradições, com todos os entusiasmados apoios que recebe da elite econômico-cultural-social, o principal responsável pela nuvem que ameaça o horizonte brasileiro.
E contra isso, contra esse monstro disforme que se especializou em matar as esperanças de um planeta mais justo e igualitário, poucos têm coragem de se insurgir.
Nem os que se dizem da mais pura e verdadeira esquerda, pois agem estupidamente, chegando ao cúmulo de se aliar às forças mais retrógradas apenas para marcar suas divergências com o governo do PT, nem esse, eleito para dar novo rumo ao Brasil, parece convencido de que o buraco é mais embaixo, que é este o momento ideal para ideologizar a questão, de trazer para o campo político a discussão sobre em que país queremos viver nos próximos anos: apenas um megaprodutor de matérias-primas para satisfação do cliente chinês - que a cada dia se desdobra para descobrir parceiros melhores - ou uma economia equilibrada que abriga também setores industriais fortes e competitivos interna e externamente.
A escolha pode ser difícil, mas para isso é que deveriam existir governantes que ultrapassem o status de meros administradores e cheguem à condição de verdadeiros líderes.