quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lulismo peruano

Humala já se encontrou com Dilma: inclusão social à vista (Foto: Antonio Cruz/ABr) 

O militar da reserva Ollanta Humala assume hoje a Presidência do Peru com um importante desafio: manter a estabilidade econômica de um país que, na última década, exibiu índices de crescimento invejáveis e distribuir a renda aos setores mais marginalizados, que votaram nele e representam 34% da população. Inspirado no ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, Humala quer ampliar os programas sociais como o Juntos - a versão peruana do Bolsa Família, que atende a 471 mil famílias. O problema é que a carga tributária no país é pequena e o Orçamento do governo também.
"O grande desafio de Humala será repetir o modelo de Lula: conseguir fazer um processo de inclusão social gradual, que satisfaça as aspirações daqueles que votaram nele porque querem uma mudança", disse o analista político argentino Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria.
Uma das propostas em discussão no novo governo peruano é a adoção de um mecanismo semelhante ao argentino para aumentar o caixa do governo. A Argentina aplica retenções (um imposto) às exportações de grãos que têm crescido com o boom das commodities. O Peru quer fazer algo parecido com os lucros das empresas de mineração.
Humala foi eleito presidente no dia 19 de junho, com 51,5% dos votos. Sua vitória foi atribuída a uma mudança de atitude. Considerado discípulo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ele moderou o discurso e seguiu os passos de Lula: na campanha divulgou uma Carta ao Povo Peruano, comprometendo-se a manter a estabilidade econômica e prometendo uma melhor distribuição da renda. Uma vez eleito, ele deu um sinal claro de que a adoção de políticas sociais não implicaria uma mudança da política econômica, que permitiu ao país crescer mais de 8% no ano passado. Para o cargo de ministro das Finanças, ele nomeou Luis Castilla, vice-ministro no governo de seu antecessor, Alan Garcia. Além de Castilla, ele nomeou para o cargo de primeiro-ministro o empresário Salomon Lerner Ghitis.
Aproveitando a posse de Ollante, a presidenta Dilma Rousseff inicia hoje  uma agenda de dois dias voltada para as relações com vizinhos da América do Sul. No Peru, a agenda começa no Congresso Nacional e termina com um almoço oferecido por Humala, no Palácio do Governo. Amanhã, Dilma recebe a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, como parte da agenda periódica de encontros bilaterais.
A presidenta está no Peru desde a noite de ontem  e retorna ao Brasil no fim do dia. Dilma deve participar ainda de uma reunião extraordinária da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Um dos temas será a necessidade de integração regional para fazer evitar consequências da crise que afeta os Estados Unidos e países da União Europeia.
"O continente tem que estar preocupado com a situação mundial porque estamos assistindo a modelos econômicos derretendo", disse o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, em entrevista a imprensa. Segundo ele, uma recessão nos países desenvolvidos afetara a região – especialmente as economias de países como o Peru, que dependem mais de exportações. Daí a importância de uma maior integração regional e da busca de novos mercados, como China e Índia.
Marco Aurélio também falou da tendência de aliar crescimento econômico à melhor distribuição de renda. “Não basta só crescer e a população ficar ao Deus dará", disse ele. Como exemplo, citou o caso de Humala, que se inspirou em Lula e prometeu ampliar os projetos sociais, sem mexer no modelo econômico.
Humala escolheu o Brasil como destino para a primeira visita após a eleição e explicou ter feito a opção por considerar o país modelo de desenvolvimento econômico com inclusão social. Durante a visita, em junho, Humala declarou a intenção de reforçar a atuação do Peru na Unasul e no Mercosul, onde é membro associado. Citou ainda o narcotráfico como um dos desafios a ser enfrentado em conjunto com os países vizinhos.
Analistas políticos e econômicos avaliam que, internamente, um dos principais desafios de Ollanta Humala será a falta de emprego no Peru e o elevado percentual de pobreza no país – aproximadamente 30% da população são considerados na faixa de pobreza. (Agência Brasil)

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