quarta-feira, 27 de julho de 2011

Fumaça demais, dor demais


Fumei dos 15 aos 29 anos. Naquele tempo apenas se desconfiava que o tabaco e as centenas de outras porcarias que o acompanham no cigarro era nocivo à saúde.
Fumar era algo corriqueiro: meus pais fumavam, minha irmã fumava, meus parentes fumavam, meus amigos fumavam, os astros de cinema fumavam, até os cantores fumavam... E se todo mundo fumava, isso deveria ser bom. A farta propaganda, em todas as mídias, ajudava a nos fazer acreditar que aquele era um hábito - ou vício - salutar, que ajudava a nos livrar das tensões do dia a dia, acalmava nossos espíritos, nos tranquilizava.
Deixei de fumar num belo dia, depois de perceber que, embora fosse jovem, me cansava apenas ao subir uma ladeira, tossia toda manhã ao tomar banho, e despertava com uma dor de cabeça que me lembrava uma ressaca - embora não tivesse bebido, antes de dormir, mais que uma cervejinha ou outra.
Depois disso, nunca mais fumei. E lá se vão longos 28 anos de abstinência. Nesse tempo, porém, nunca impliquei com ninguém que fumasse e sempre fui contra a onda de discriminação que se ergueu contra os fumantes, com aqueles ridículos fumódromos que se instalaram nas redações em que passei.
Hoje já se sabe que o fumo é causa de muitas doenças. Recentemente, perdi uma amiga vítima do cigarro. Hoje mesmo tenho outro amigo internado numa UTI pelo mesmo motivo. E quando essas coisas acontecem com as pessoas de quem a gente gosta, não há outro jeito a não ser pensar que o fumo é uma desgraça para todos - aqueles que são afetados pelo seu imenso poder destruidor, e para a sociedade em geral, que se priva do convívio de muita gente boa, muita gente que poderia estar entre nós trabalhando, se divertindo, ajudando a construir um mundo melhor.
Por essas e por outras não dá para aceitar mais que o Estado trate a indústria do fumo simplesmente como uma fonte de arrecadação, à custa do sofrimento de milhares de pessoas.
E não venham com essa historinha de que reduzir a área para os fumantes vai resolver alguma coisa. A medida, como todo o tratamento que se dá a essa questão do fumo, é de uma hipocrisia só. Não vai à raiz do problema, não resolve nada..
O único jeito de pôr fim à desgraça que o fumo causa é simplesmente proibir a fabricação de cigarros e congêneres, impedir o seu comércio, se privar dessa fonte maldita de arrecadação, enfrentar sem medo o poderoso lobby dessa indústria, dar um jeito de transferir os trabalhadores para outra atividade qualquer.
Pode parecer uma medida extrema, radical, mas sem fazer isso vamos ainda ficar muito tempo assistindo a nossos amigos, nossos familiares, toda a gente querida, se consumir lentamente por um vício imposto à sociedade só para que alguns poucos fiquem ainda mais milionários.

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