sábado, 2 de julho de 2011

Jornalistas sem aumento


É impressionante: todo ano a coisa se repete. Mais uma vez, os empresários de comunicação de São Paulo mostram, na negociação da data-base da categoria (1º de junho), todo o desprezo que nutrem pelos seus funcionários, aqueles que, pelo menos na teoria, são os responsáveis pelo produto final das empresas, a notícia. Nesta semana, diretores do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo participaram de mais uma rodada de negociação da campanha salarial de jornais e revistas com os empresários da capital. A nova proposta patronal não poderia ser mais desalentadora: reajuste de 6,44%, apenas a variação anual do INPC, para quem ganha até R$ 5 mil, elevando o piso salarial de cinco horas diárias para R$ 2.065. Para quem ganha mais, a oferta patronal foi dar 5,5% a mais para salários até R$ 10 mil e 5% para os que recebem acima disso.
O menosprezo dos patrões com os jornalistas fica mais evidente quando se sabe que, neste ano, como no ano passado, mais de 90% das categorias profissionais têm conseguido aumentos superiores à inflação - em alguns casos, bem superiores. Além disso, muitos trabalhadores, como por exemplo os metalúrgicos, estão recebendo mais que 13 salários anuais, graças ao dinheiro extra da PLR, a Participação nos Lucros e Resultados.
E quanto a lucros, os donos dos jornais e revistas não têm do que reclamar. A menos que toda a propaganda que fazem dos sucessivos aumentos de tiragem e do faturamento publicitário seja uma rematada mentira.
Deixar de repor pelo menos a inflação é simplesmente rebaixar salários. Talvez seja esta, na visão do patronato paulistano, a sua contribuição ao esforço do governo federal para esfriar o crescimento econômico. É possível mesmo que, numa próxima reunião da campanha salarial, os representantes do patronato aleguem isso para manter a proposta de arrocho...
De qualquer forma, é quase certo que, novamente, a negociação vai se estender por meses, já que o sindicato dos jornalistas é um tanto quanto molenga nessas questões e parece que entra em campo sabendo que vai perder o jogo. Se não, como justificar que a principal reivindicação seja um aumento real de meros e ridículos 3%? Quem pede isso no início de uma negociação, sabendo quem está do outro lado, vai, irremediavelmente, se contentar com qualquer coisa que vier, como ocorreu nos anos anteriores.
A nova rodada de negociação está agendada para a próxima semana. O informe do sindicato diz que seus diretores solicitarão a inclusão de pontos como a reutilização de matérias para o impresso e a internet e adicional por trabalho multiplataforma, ou seja, pagamento suplementar quando o trabalho for publicado na internet ou em blogs organizados pela empresa. Diz ainda que os diretores do sindicato estão visitando as redações e estiveram reunidos com jornalistas da Folha, Estadão e Jornal da Tarde para discutir as propostas da campanha salarial.
Pura perda de tempo. Melhor encerrar logo as negociações e levar a disputa para a Justiça do Trabalho. Pior do que está não fica.

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