quinta-feira, 23 de junho de 2011

São Paulo sem retoque


Um número incontável de paulistanos abandonou a cidade neste feriado. São pessoas que preferem passar horas num congestionamento do que ficar em São Paulo. Nos fins de semana normais acontece o mesmo: as estradas ficam cheias já na noite de sexta-feira.
O comportamento masoquista dessa turma pode parecer estranho, mas dá para entendê-lo.
São Paulo é uma cidade tão feia, tão se atrativos, tão desumana, que muita gente prefere ter algumas horas de desconforto desde que elas sejam compensadas por outras longe do sofrimento diário que é viver na metrópole, encarar sua paisagem horrorosa, desviar de seus preconceitos e desigualdades, fugir de sua violência e mercenarismo.
Acho notável o esforço que as autoridades e a mídia fazem para tentar passar a imagem de uma São Paulo hospitaleira, cheia de atrativos - os melhores restaurantes, os melhores cinemas e teatros, centro de compras espetacular e blá-blá-blá -, mas não caio nessa.
Tudo isso pode valer para quem não se importa de ser roubado por flanelinhas e "valets" que cobram R$ 20 para largar o carro na rua; pegar filas imensas para comprar um ingresso para qualquer show; se arriscar no trânsito cheio de malucos e irresponsáveis para ir a qualquer lugar; comer um prato que vale a metade do que é cobrado.
Gente normal, comum, classe média média, tem pouco a fazer em São Paulo, a não ser trabalhar e trabalhar, incansavelmente. Tanto que não dá nem tempo para pensar em muita coisa...
Por essas e por outras, o maior desejo de uma grande parcela da população paulistana, atestam pesquisas, é ir embora da cidade assim que a vida permitir.
E, de vez em quando, voltar a ela para respirar um pouco desse ar "cosmopolita" que é a perfeita tradução de um capitalismo manco, sem lógica nem ética, que domina há tanto tempo a cultura dessa metrópole.

2 comentários:

  1. Motta, tudo bem?

    Ano e pouco atrás, movido pela mesma percepção que você, escrevi algo parecido. Se quiser ler, está em

    http://pandinigp.blogspot.com/2009/10/pobre-sao-paulo.html#links

    Abraços!

    LAP

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  2. E aí, Pandini?
    Fico aliviado em saber que existem outros como eu que não se deixam iludir pelos chavões ufanísticos de São Paulo.
    Imagine só, fazer o possível para não levar um católico fervoroso para rezar na catedral...
    Que cidade esta, hein?
    Abraços,
    Motta

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