segunda-feira, 9 de maio de 2011

Parceria restabelecida

Wulff: no Brasil, em busca do tempo perdido (foto: Wilson Dias/ABr)

Os jornalões, infelizmente, exploraram pouco a visita que o presidente da Alemanha, Christian Wulff, fez ao Brasil na semana passada, embora ela tenha sido visto como uma forma de o país europeu contra-atacar a ofensiva que a China vem fazendo na América do Sul.  A visita foi importante porque, de certo modo, restabelece uma parceria antiga entre os dois países e que, nos últimos anos, ficou adormecida.
No primeiro dia de sua visita ao Brasil, Wulff se encontrou com a presidente Dilma Rousseff, tendo assinado acordos nas áreas de ciência e tecnologia, educação, ambiente e energia. Wulff, segundo relato da Deutsche Welle, disse ter ficado surpreso com o resultado da reunião com o governo brasileiro. "Não contava com isso, mas de fato já me haviam dito que a senhora [Dilma Rousseff] é uma pessoa determinada e por isso pudemos firmar acordos vinculativos", afirmou.
Ele destacou a ciência como um dos setores de maior cooperação. Um dos acordos assinados prevê o estímulo ao intercâmbio de pesquisadores dos dois países através da concessão de bolsas de estudo. "Podemos, desde já, dar o tiro de largada para que estudantes brasileiros venham à Alemanha. Nossas universidades estão abertas aos estudantes brasileiros", afirmou.
A meta que o governo brasileiro quer alcançar nos próximos quatro anos é de conseguir 75 mil bolsas de estudo para brasileiros no exterior. Segundo o ministro brasileiro de Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, serão 10 mil bolsas só para a Alemanha, com prioridade para as áreas de Ciências Exatas e Engenharia. "Isso significa que eles têm que dar suporte para o aprendizado do alemão, além de abrir os espaços nas universidades alemãs. E o governo brasileiro vai se responsabilizar pela passagem, estada e seguro desses jovens que vão estudar", disse Mercadante.
O embaixador brasileiro em Berlim, Everton Vargas, disse que a Alemanha pode trazer para o Brasil experiência, por exemplo, na organização de grandes eventos. "Em função da crise econômica e do fato de a Alemanha ter ficado de fora de todo o processo brasileiro de privatização nos anos 1990, há, agora, a percepção da indústria alemã de que deve se engajar de maneira direta no processo brasileiro de construção de sua infraestrutura, área na qual a Alemanha tem excelência", lembrou.
Mercadante também confirmou o interesse de empresas alemãs na licitação do trem-bala que vai ligar o Rio de Janeiro a Campinas, e também confirmou a possibilidade de investimentos alemães nos aeroportos nacionais, tendo em vista a proximidade da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
Os dois presidentes discutiram ainda o cenário político mundial e Dilma Rousseff destacou que os dois países também são parceiros na defesa de uma ordem mundial mais justa e democrática, que respeite os direitos humanos. A Alemanha foi o único país fora do chamado grupo do Bric que não votou na ONU a favor da intervenção armada na Líbia. Em relação ao G20, Dilma afirmou: "Embora o pior momento da crise tenha passado, todos nós concordamos com a necessidade de aprimoramento das governanças financeiras internacionais. Percebemos que países desenvolvidos com crescimento ainda fraco têm adotado políticas monetárias extremamente expansionistas, com evidentes efeitos negativos sobre a inflação mundial."
O presidente alemão chegou ao Brasil acompanhado de 60 empresários. O Brasil é o maior parceiro comercial da Alemanha na América Latina e mais de 1.200 empresas alemãs estão instaladas no país. A estimativa do ministério é de que a contribuição destas empresas para a formação do Produto Interno Bruto brasileiro seja em torno de 8% a 10%.
A Alemanha é o quarto principal parceiro comercial do Brasil. Em 2010, o intercâmbio comercial atingiu US$ 20,6 bilhões, representando 23% do total do comércio entre o Brasil e a União Europeia no mesmo período. No primeiro trimestre deste ano, as exportações brasileiras para a Alemanha alcançaram US$ 2,1 bilhões, um aumento de 31% em relação ao mesmo período de 2010.
Sobre a abertura das relações comerciais, o presidente alemão disse que está ao lado do Brasil no combate ao protecionismo e na defesa do livre comércio. "Ainda há alguns problemas na União Europeia no setor agrícola, desejos brasileiros que ainda não conseguimos atender, mas penso que essas barreiras poderão ser superadas", admitiu.

Um comentário:

  1. Por outro lado
    Presidente alemão cancela visita à ThyssenKrupp após anúncio de cortes
    Visita de Wulff à siderúrgica da multinacional alemã no Rio fecharia giro presidencial pela América Latina. Presidente alemão se irritou por não ter sido avisado do plano de reestruturação da empresa.
    http://www.dw-world.de/dw/article/0,,15057850,00.html

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