terça-feira, 31 de maio de 2011

Nas ondas do rádio


Tenho o péssimo hábito de escutar rádio AM. Talvez seja uma das únicas pessoas do mundo que fazem isso. Passear pelo dial do rádio AM hoje é ouvir uma sucessão de picaretas que se intitulam "pastores" bradar contra o demônio. O interessante é que eles não se dão conta que da impossibilidade de o Maligno se abalar com a suas ameaças, pelo simples fato de que ele não escuta rádio, pois se dedica em tempo integral à espinhosa tarefa de povoar seu reino com as pobres e perdidas almas humanas. Além disso, acho difícil que ele frequente templos religiosos - seria perigoso e até mesmo antiético.
Pois bem, no meio dessa gritaria histérica, engana-se quem pensa em encontrar os necessários oásis de tranquilidade em número suficiente para acalmar o espírito e curar os ouvidos. Há uma ou outra estação "jornalística" que infesta os ouvintes com notícias absolutamente desnecessárias - quando não com opiniões tão inconvenientes que seus autores deveriam guardá-las para si. E à noite, as inevitáveis transmissões de jogos de futebol.
Uma legião enorme de profissionais faz parte desse universo radialístico esportivo. O número poderia sugerir uma variedade de estilos e pensamento. Ledo engano. A única coisa que os distingue é o bordão que usam - para quem não é íntimo desse mundo, o bordão é como a carteira de identidade do radialista, esse ser que não tem rosto, só voz.
O problema desse pessoal é que, no processo para criar o melhor bordão, o mais criativo, aquele que os lançará definitivamente nos braços do povo, esvaiu-se toda a inteligência que poderia estar acumulada no cérebro. E hoje, não importa a emissora, todos repetem velhos chavões, como se fossem uma única voz a serviço do reacionarismo mais radical possível.
No futebol, procuram esconder as preferências clubísticas, mas é só abrir a boca para perceber que a "informação" que divulgam é a fofoca que qualquer torcedor gostaria de espalhar nas mesas de bar.
E quando se metem a falar em outros assuntos, então? Aí o caso fica realmente sério. É um festival infindável de bobagens, desinformação, preconceitos, tendo no fundo, quase sempre, críticas ao "governo" - o federal, nunca o estadual ou municipal - que nunca faz nada certo e só existe para ferrar o torcedor - ou o cidadão.
Até mesmo emissoras que pretendem cativar um público mais "elitizado", como a ESPN-Estadão, não escapam desse padrão.
Outro dia, no começo da tarde, a equipe inteira da emissora vociferava contra a realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil, com argumentos tão sólidos quanto uma bolha de sabão. Quem ouviu aquilo deve ter ficado com a certeza de que a emissora, para manter seu ponto de vista, vai boicotar a Copa de 2014, e em lugar de transmitir seus jogos, passará a explicar aos seus ouvintes as regras do vibrante esporte chamado curling.
Já na Globo, uma emissora mais "popular", tarde da noite, um desses "comentaristas" de uma nota só resolveu explicar aos ouvintes o sistema tributário brasileiro. O problema é que na irracionalidade de seu inflamado discurso, acabou misturando as estações, e concluiu que o imposto não passa de uma roubalheira que os políticos institucionalizaram e só por causa deles o Brasil é essa porcaria toda que está aí. Recebeu aplausos entusiasmados dos companheiros.
Felizmente, há sempre a a opção última de desligar o rádio. Ou, se estiver no carro, mudar para o CD e ouvir um samba de dona Ivone Lara ou de Nei Lopes. É receita certa para acabar com qualquer dor de ouvido.

Um comentário:

  1. Aqui na minha cidade (Vitória da Conquista - Bahia) já aposentei o rádio onde costumava ouvir um programa local.
    Isto porque o radialista que tinha um pouco de credibilidade e elogiava o grande desempenho da prefeitura (isto ninguém pode mais esconder), repentinamente mudou o tom e passou a condenar tudo.
    Para quem é indiferente aos assuntos relacionados à política restou somente uma certeza: Ele é um mentiroso. A dúvida é saber se ele mentia antes ou se passou a mentir agora. Talvez as duas hipóteses sejam corretas.

    ResponderExcluir