quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fatos e evidências

Palocci: ministro da Fazenda é valorizado pelo mercado. E como! (Foto: Wilson Dias/ABr)

Para quem está de fora é muito difícil falar sobre os bastidores de um partido político, principalmente um com as dimensões e as complexidades do PT. Assim, qualquer opinião que se dê sobre um fato qualquer será muito mais baseada em evidência do que em fatos. É o que acontece com o incrível caso do enriquecimento ultrarrápido do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.
Palocci, ex-ministro da Fazenda, exercia o mandato de deputado federal na época em que a sua empresa de consultoria estava funcionando. Nesses quatro anos, para chegar apenas ao valor do apartamento que comprou, R$ 6,6 milhões, a empresa teria de proporcionar uma receita líquida mensal  de cerca de R$ 138 mil. É muito, é pouco? Só é possível saber isso se o ministro apresentar os contratos da consultoria, algo quer não fez até o momento.
Palocci, em sua defesa, alegou que quem ocupou o cargo de ministro da Fazenda é valorizado pelo mercado. É verdade. Até mesmo Mailson da Nóbrega, o homem que deixou a inflação bater na casa dos 80% mensais, faz sucesso com sua empresa. A Folha revela agora que Palocci pediu umas dicas para Mailson sobre como tocar a sua consultoria e chegou até mesmo a fazer uma palestra para seus clientes, pela módica quantia de R$ 10 mil.
Apresentados esses poucos fatos, vamos às evidências.
Como o próprio Palocci disse, quem foi ministro da Fazenda tem mesmo extraordinário valor para o tal do mercado. Palocci, em seu cargo, conheceu não só todos os meandros da administração federal, mas também todos os segredos que não se revelam aos cidadãos comuns. Esteve, durante certo tempo, afastado do núcleo do poder político, mas nunca deixou de orbitar à sua volta. Isso tanto é verdade que foi peça-chave na campanha eleitoral de Dilma Rousseff.
Não são poucos os que perguntam o motivo pelo qual Dilma chamou Palocci de volta ao governo. Creio que fez isso porque sabe que ele é um dos únicos petistas que têm acesso livre tanto à elite empresarial brasileira quanto às lideranças políticas de todos os matizes.
Essa facilidade de transitar por esses mundos, porém, é uma via de duas mãos. Do mesmo modo que pode servir de interlocutor do governo com essas pessoas, ele pode atuar na direção contrária. É o homem certo no lugar certo, para usar um chavão.
Mas tudo isso não passa de mera suposição. O único fato incontestável em toda essa história é que Palocci, mais uma vez, é protagonista de mais um desses escândalos que os jornalões adoram, porque dá a eles munição suficiente para fustigar sem piedade o governo petista.
Na vez passada, Lula aguentou o quanto pôde, mas, na hora em que viu que não dava mais para segurar a barra, defenestrou o companheiro. Dilma não é Lula, mas não creio que vá agir diferente se o seu chefe da Casa Civil não puder mostrar mais fatos que desmintam as evidências de que ele, para enriquecer como enriqueceu, não praticou o velho, conhecido e desprezível tráfico de influências.

Um comentário:

  1. "(..)Não são poucos os que perguntam o motivo pelo qual Dilma chamou Palocci de volta ao governo.(...)"
    Isso é que me intriga... Porque esse não é um fato isolado, a mesma pergunta pode ser feita para a Ministra da Cultura, quem indicou aquela senhora para o cargo?
    Esquisito, só a Dilma tem a resposta.

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