O fato é que as vendas da Honda, ao contrário da de concorrentes, têm declinado aqui. De janeiro a abril, segundo a Anfavea, associação que reúne as montadoras, a Honda vendeu 32 mil veículos, 10% a menos que em igual período do ano passado. Para dar um exemplo da sua situação, a coreana Hyundai, que vem atrás da japonesa no ranking, vendeu no primeiro quadrimestre deste ano 35% a mais que de janeiro a abril do ano passado.
A situação da Honda, marca que sempre esteve entre as mais conceituadas, é indício que algo está ocorrendo no mercado automobilístico, que sempre se mostrou de uma imobilidade irritante, com as chamadas "quatro grandes" - Volkswagen, Fiat, GM e Ford - com cerca de 70% de participação e as outras se contentando com o restante.
E, embora os executivos digam que está tudo como dantes, o fato é que a chegada das chinesas bagunçou as peças do tabuleiro e já começa a exigir das empresas mais antigas algo esquecido por elas: a competição, que implica oferecer produtos melhores por menos.
Desde sempre, o que se escuta sobre o inacreditável preço com que os veículos nacionais são vendidos é que a culpa é da alta carga tributária que incide sobre eles. De fato, a tributação é pesada, mas mesmo que os veículos "made in Brazil" fossem vendidos sem nenhum imposto, ainda assim custariam mais que similares de outros países.
O que ocorre aqui é nada mais, nada menos, que a prática da velha e condenável usura, aproveitando um mercado consumidor que durante muitos anos considerou o automóvel um investimento e não um simples bem para ser usufruído. A queda da inflação e a oferta mais ampla de crédito foram os responsáveis pela desglamuralização do carro, mas parece que as montadoras ainda não entenderam muito bem o fenômeno, e insistem em tratar o produto que fazem como um mero símbolo de status - pelo qual as pessoas pagam qualquer quantia.
Os problemas da Honda podem ser simplesmente transitórios. Mas é muito mais provável que sejam mesmo reflexo dessa mexida que o início do processo de competição está promovendo no mercado automobilístico brasileiro. Se for isso mesmo, as 400 pessoas demitidas vão ficar sem emprego durante pouco tempo.
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