terça-feira, 5 de abril de 2011

No meio do caminho


Um colega de trabalho teve a maior surpresa quando chegou à garagem do seu prédio com a mulher: um bando armado o esperava. Foi vítima de um desses "arrastões" que estão se tornando tão comuns em São Paulo. E ele mora num bairro classe média "média", na Zona Leste. Ou seja, a bandidagem começa a procurar alternativas mais fáceis, menos arriscadas, para a sua dura labuta.
Já amigos que moram em Serra Negra, a pequena e bela estância hidromineral situada a pouco mais de 150 quilômetros da capital, se queixam de uma série de crimes menores na cidade, praticados, provavelmente, em consequência do aumento do uso do crack. Além deles, contam que outro dia uma quadrilha explodiu os caixas eletrônicos do Bradesco, de madrugada. O barulho foi tão alto que muita gente acordou assustada. Até agora, nada dos bandidos. A polícia sabe apenas que Serra Negra não foi a única cidade da região a receber a visita do bando, que parece ter achado uma mina de ouro nos pequenos e ricos municípios do interior paulista.
Essas duas historinhas servem para ilustrar o fato de que os problemas enfrentados hoje pelo Brasil são inúmeros e cada vez mais complexos. Tudo devido ao crescimento econômico acelerado que o país vive nos últimos anos, que reduziu, mas não eliminou as desigualdades sociais, que diminuiu, mas não acabou com carências profundas na educação, na saúde, na habitação...
Foram anos e mais anos jogados fora, com o Brasil dividido entre a Casa Grande e a Senzala, entre os ricos e os pobres - e entre eles, os remediados. Os governos se sucediam sem que esboçassem um gesto sequer para promover uma política capaz de resgatar da miséria, financeira e psicológica, dezenas de milhões de pessoas que hoje vislumbram uma tênue luz que pode levá-las para uma terra mais amena e fértil.
Até que isso ocorra completamente, porém, muita água há de rolar debaixo da ponte. Ou muitos contratempos aparecerão pelo caminho. 
São vários os sinais de que o Brasil vai, finalmente, acrescentar ao progresso econômico, uma educação de qualidade, atendimento médico-hospitalar universal gratuito pelo menos decente, possibilidade de qualquer cidadão comprar sua casa, várias coisas, enfim, que indicam que o país deixou de ser a eterna promessa e já entrou nos trilhos que conduzem ao tão sonhado Primeiro Mundo.
Pode ser que eu esteja errado. Mas não custa nada ser otimista. 

2 comentários:

  1. Excelente título, Motta! É o meio do caminho. Não há mágica que inverta os anos de Casa Grande & Senzala! Muito há para se fazer, mas começou a ser feito!

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  2. Motta, acho até difícil entender que alguém pense em um caminho sem ser esse. Lembrei de um comentário que li, para o mal do meu estômago, no blog do Reinaldo Azevedo. Ele só aceita comentários de retardados como ele, mas essas pessoas existem. Ainda me assusto.

    Chama "Raskol: crimes anunciados ideologia comunistóide e teta grande". Diz: "E ainda tem gente que passa o tempo defendendo esses ordinários como se fossem pobrezinhos. E por quê? Porque ao invés de enfrentar um balcão de loja, uma caixa de supermercado, trabalhar numa empresa de segurança, de limpeza – não contentes em ganhar o que lhes permite a competência, o treinamento e o mercado – partem para aquilo que a esquerda por muitos anos propagou, ou seja, partem para expropriação dos ditos “ricos”, ou seja, os que estudaram, buscaram treinamentos, trabalharam durante o dia e pagaram escola noturna, enfim, os que não esperaram o tempo passar vagabundando para então, expropriar os verdadeiros trabalhadores do suor de seu trabalho."
    http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/lei-de-incentivo-a-cultura-e-aristocracia-do-onanismo

    A democracia permite que pessoas dêem opiniões como essa. Mas quero acreditar que hoje falem mesmo apenas para as paredes.

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