domingo, 24 de abril de 2011

Milho para galinha


A Associação Paulista dos Supermercados (Apas) e o governo do Estado chegaram a um acordo para acabar com as sacolas de plástico. Até o fim do ano, portanto, os filiados da Apas não empacotarão mais as compras dos fregueses nas sacolinhas. Em vez delas, venderão, por R$ 0,19 saquinhos feitos de um material biodegradável, à base de milho. O preço, dizem, é o de custo. A mudança, atestam seus idealizadores, é necessária em nome das boas práticas ecológicas: o plástico leva uma centena de anos para se decompor.
Tudo muito lindo, ótimo, maravilhoso... para os donos dos supermercados!
É que, com a iniciativa, eles vão aumentar os seus já gordos lucros, já que as sacolinhas de plástico eram fornecidas pelos supermercados e o custo delas, óbvio, estava embutido nos preços dos produtos vendidos. Sem essa despesa, eles passam a ganhar mais, pois vão vender as tais sacolas biodegradáveis.
Alguém se lembra do que aconteceu com o fim da CPMF, o imposto do cheque?
Os empresários diziam, no seu poderosíssimo lobby para acabar com o tributo, que ele encarecia a cadeia produtiva. Com o fim do imposto, o governo deixou de arrecadar cerca de R$ 20 bilhões, a Receita Federal e a Polícia Federal perderam um precioso instrumento para detectar sonegação fiscal, fraudes e outros crimes financeiros, e os empresários simplesmente embolsaram o que deixaram de pagar. Não diminuíram o preço de nenhum mísero produto!
Nesse caso das sacolinhas de plástico a lógica é a mesma. Sob o pretexto de uma boa ação, o que os donos dos supermercados fazem é, nada mais, nada menos, arranjar um meio de aumentar seus lucros, tirando um pouco mais do consumidor, que, para ir às compras numa cidade como São Paulo já tem de gastar muito com transporte, combustível, estacionamento, só para citar os itens principais.
Se estão tão preocupados com a preservação do ambiente, os supermercadistas deveriam voltar a usar os velhos e bons sacos de papel. Estariam assim agradando os fregueses e ajudando todo o setor de papel e papelão, em vez de dar uma grana preta a algum "amigo" que detém a tecnologia da fabricação dessa tal sacolinha de milho.
Isso, porém, seria pedir demais. O capitalismo, todos sabem, age sempre em favor de uma minoria.

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