terça-feira, 29 de março de 2011
Em nome do cinismo
O que ocorre hoje na Líbia é o exemplo mais bem acabado que se pode encontrar do cinismo dos governantes das ditas "potências" mundiais. Hoje, terça-feira, delegações de cerca de 35 países discutem os próximos passos da "coalizão" naquele país do norte da África. O primeiro-ministro inglês, David Cameron, disse esperar que o encontro garanta ''o máximo de unidade política e diplomática''. E, num comunicado conjunto, Inglaterra e França rangeram os dentes e conclamaram correligionários do líder líbio, Muamar Kadafi, a abandoná-lo ''antes que seja tarde demais'' - cada um interprete a frase como quiser.
No trecho seguinte do documento, Cameron e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, revelam o quanto o ser humano pode ser cínico, ao afirmar que a conferência ''vai aproximar a comunidade internacional de modo a dar apoio à transição da Líbia de uma ditadura violenta para criar as condições para que o povo da Líbia possa escolher seu próprio futuro''.
Ora, como encarar com o mínimo de seriedade um texto desses quando todo mundo sabe que até outro dia, o "ditador violento" era paparicado por esses mesmos governos, por ter dinheiro de sobra e por fazer o trabalho sujo de reprimir a Al Qaeda e a onda de imigração dos "sujos" árabes da região para a "limpa" Europa?
Sem meias palavras, o que esse grupo de países está fazendo nada mais é que intervir nos negócios internos da Líbia, que passa por uma guerra civil. Com o pretexto de "proteger" a população civil, tomou partido de um dos lados, e cerra fileiras com o outro, prestando toda a ajuda possível com seus mísseis "de precisão" e bombas "inteligentes".
A preocupação com a população civil é a mesma que tais países - sempre os mesmos!- tiveram na campanha do Iraque, que matou mais de cem mil pessoas que nada tinham a ver com o regime de Sadam Hussein.
O tal documento escrito por Inglaterra e França avança todos os sinais do direito internacional e dá um ultimato a Kadafi, dizendo que ele perdeu toda a sua legitimidade e deve ''partir imediatamente'', como se às duas nações tivesse sido conferido o poder de julgar governos e governantes pelo mundo afora.
Já o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que delegou aos subordinados ingleses e franceses a tarefa suja de liderar as ações bélicas, fez um pronunciamento no qual defende o envolvimento americano na operação militar. Obama afirmou que a intervenção americana salvou ''incontáveis vidas'' ameaçadas pelas forças do ''tirano'' Muamar Kadafi. Mas, ciente de que uma parcela expressiva da opinião pública americana vê com receios o envolvimento americano em mais um conflito militar, destacou que o controle da incursão militar para a aliança é da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
E assim, com os pés afundados no sangue de milhões de inocentes, caminha, inconsequentemente, a humanidade.
Haja estômago!
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