quarta-feira, 30 de março de 2011

De olho no etanol


Terra de alguns dos melhores veículos já produzidos, a Alemanha quer conhecer com detalhes a história de sucesso do etanol brasileiro. "Nós queremos aprender com o exemplo brasileiro como novos motores podem ser produzidos, como os carros podem trafegar com uma mistura maior de etanol", disse Rainer Bomba, vice-ministro alemão dos Transportes, durante sua visita ao Brasil, que se estende até o dia 2 de abril.
Os governos da Alemanha e do Brasil assinaram um acordo de intenções para acentuar a troca de experiências e fortalecer a cooperação. "O tema bioetanol está entrando na agenda de vários ministérios alemães e será tratado de forma mais acentuada daqui para frente", afirmou Bomba.
O interesse da Alemanha no sucesso da experiência brasileira foi o tema de uma reportagem da Deutsche Welle, o site da agência oficial de informações do país. Segundo ela, com o problema da escassez do petróleo batendo a porta e com a subida dos preços, a Alemanha quer garantir que outras tecnologias se integrem ao mix dos motores que moverão a frota do futuro. "Esse interesse pelo etanol brasileiro não se deve somente à escassez do petróleo, mas também ao fato de podermos diminuir as emissões de CO2", ressalta o vice-ministro dos Transportes.
A matéria segue dizendo que se a Alemanha seguir o caminho do etanol, a Volkswagen do Brasil já se declarou pronta para ajudar. Foi a empresa que, em parceria com a Bosch, lançou há dez anos no mercado brasileiro o motor flex fuel.
"A Alemanha está aproveitando o know how que temos acumulado nos últimos anos aqui. Para nós, essa tecnologia não é novidade. Na verdade, os nossos engenheiros aqui são o centro do desenvolvimento do flex fuel", pontua Thomas Schmall, diretor da Volkswagen do Brasil.
A solução que permite a mistura dos combustíveis em qualquer proporção, na visão de Schmall, funciona muito bem no Brasil. "Mas pode não funcionar para o mundo inteiro, porque cada país tem as suas necessidades", argumenta. E se os alemães levarem a cabo o projeto brasileiro, o etanol terá que ser importado: "Não há espaço para se plantar cana-de-açúcar na Alemanha, e qualquer outra planta que for cultivada lá [para a produção de biocombustível] vai interferir na cadeia de alimentação".
A Deustche Welle explica que na atualidade, a obrigatoriedade da importação é um grande impedimento para que o etanol brasileiro ganhe o mercado alemão. "Ao ser importado, o etanol é taxado pela União Europeia (UE) como sendo um produto agrícola, mas que na verdade é usado como combustível. E a gasolina não entra na UE com taxação extra", lembra Ingo Plöger, presidente da IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional, com sede em São Paulo.
Rainer Bomba, que reconhece como eficiente o etanol de cana-de-açúcar e sua produção de forma sustentável, admite as barreiras impostas pela UE. Mas ele acredita em mudanças, já que o preço da gasolina deve aumentar ainda mais e a escassez se tornará um problema sério. "A nossa função é garantir que tenhamos um combustível que seja acessível e viável sob o aspecto ambiental. O etanol brasileiro é importante nesse sentido."
A reportagem explica que o interesse em adaptar o modelo brasileiro em solo alemão é evidente, mas isso não deve acontecer em um futuro próximo. A análise de Ingo Plöger é baseada na recente "experiência traumática" provocada pela introdução do chamado E10 na Alemanha.
Desde o início de março, uma polêmica se instalou entre os motoristas alemães, com o aumento de 5% para 10% de etanol na mistura de gasolina oferecida nos postos. "A introdução do E10 provocou insegurança no consumidor. A informação passada é que vários motoristas não deveriam usar o combustível porque ele prejudicaria o motor, em função de corrosão" lembra o consultor.
Apesar de o governo ter reconhecido falhas na divulgação do novo combustível, o assunto etanol virou um desafeto entre os alemães. Por isso, a introdução do modelo brasileiro levaria bastante tempo para ganhar apoio popular, avalia Plöger.
Enquanto isso, no Brasil, informa a DW, o avanço das pesquisas no setor já trazem uma nova geração de motores. Desta vez, outra famosa marca alemã se prepara para lançar o primeiro caminhão movido a biodiesel feito a partir da cana-de-açúcar. O Accelo, da Mercedes-Benz, chegará em janeiro de 2012 com exclusividade no mercado brasileiro. "O motorista vai poder usar diesel, biodiesel e biodiesel de cana", explicou Gilberto Gomes Leal, que trabalhou no projeto de desenvolvimento do motor.
Tão novo quanto este motor do Accelo é o biodiesel de cana-de-açúcar. "O combustível já está sendo implementado, e a partir de 2012 estará disponível no mercado", acrescenta Leal. Desenvolvido em parceria com engenheiros alemães, o novo modelo não será oferecido aos consumidores daquele país – é um projeto exclusivo para o Brasil.

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