Romário na Câmara: desenvolto como na pequena área (foto: ABr)
Romário, o fabuloso goleador, fez sua estreia no plenário da Câmara dos Deputados lendo um belo discurso. Assim como o palhaço Tiririca e o boxeador Arcelino Popó, Romário faz parte daquele grupo de pessoas que choca o público ao optar pela vida política.
São ridicularizados na campanha eleitoral por uma mídia que estereotipa as pessoas. Um futebolista, por exemplo, é sempre um sujeito de nível intelectual baixo, semialfabetizado, que não se interessa por nada além de pagodes, mulheres, cerveja, e, é claro, bater uma bola quando não estão no campo - batendo uma bola.
Claro que muitos são assim mesmo, mas como em tudo na vida, há exceções.
O estereótipo é usado simplesmente porque a nossa imprensa tem um grave defeito: é, além de tecnicamente medíocre, preguiçosa. Gosta de publicar releases, ouvir sempre as mesmas fontes, se pautar pelos "papers" dos bancos, participar de coletivas, desprezar o contraditório e a investigação.
Se fosse só um pouquinho melhor, teria, na campanha eleitoral, percebido que nem Romário, nem Tiririca, nem o valente Popó, são excrescências no nosso cenário político.
Figuras públicas tão conhecidas como eles deveriam, isso sim, ser mais bem focadas pelos jornalistas. É que, quase sempre, por trás da máscara do personagem que encarnam - o marrento Baixinho, o ignorante palhaço, o corajoso lutador - é possível encontrar um ser humano com as mesmas preocupações dos mais respeitados e ilustres brasileiros.
São pessoas que merecem ser ouvidas com bastante atenção, a mesma que se dá a parlamentares que há décadas fazem do Congresso o quintal de suas casas, o balcão de negócios de suas empresas.
A seguir, a íntegra do primeiro discurso que Romário fez na Câmara dos Deputados:
Boa tarde, Sr. Presidente, boa tarde, Sras. e Srs. Deputados.
Antes de iniciar meu discurso, registro que hoje é o Dia dos Atletas Profissionais, portanto gostaria de parabenizar todos os atletas, especialmente os brasileiros, que dão exemplo de superação e muita luta.
É com muita honra que venho a esta tribuna agradecer a confiança em mim depositada por quase 150 mil eleitores do Estado do Rio de Janeiro.
Devo dizer que não foi uma campanha fácil. Visitei mais da metade dos 92 Municípios e pude ver de perto as dificuldades enfrentadas pela população fluminense no seu dia a dia. Vi a falta de moradia e de saneamento;vi, sobretudo, em muitas comunidades, a ausência de opções de esporte, cultura e lazer.
Sr. Presidente, há muito a ser feito. Esta Casa tem papel fundamental na resolução desses problemas. Estou certo de que contarei com o apoio dos meus colegas de bancada, que sabem da responsabilidade do nosso partido perante a sociedade brasileira, especialmente neste momento em que o PSB cresce, conquistando novos espaços.
Sei que inicio o meu mandato de Deputado num momento difícil para a população do meu Estado. Quero registrar minha profunda tristeza e minha solidariedade com os moradores da região serrana, principalmente com os moradores de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, do meu colega de partido, o Deputado Glauber Braga. No momento, estamos todos empenhados em levar socorro aos que sofreram com a catástrofe, mas é preciso que, de fato, trabalhemos para evitar a repetição dessas tragédias e também para reconstruir essas cidades, que são polos turísticos importantes do Rio de Janeiro.
Foi também doloroso para mim e para todos os que amam o carnaval e o Rio, acompanhar o incêndio na Cidade do Samba, que transformou a última segunda-feira numa segunda-feira de cinzas. Mando meu abraço para o pessoal da Portela, da União da Ilha e da Grande Rio, escolas que vão precisar de toda a força para recuperar tudo o que foi perdido e levar sua alegria para a Sapucaí, já no próximo mês. Tenho muita fé na capacidade de superação do povo carioca e sei que, este ano, nosso carnaval será espetacular, como sempre o foi.
Quem me conhece sabe da importância do esporte na minha vida. Nunca me considerei um atleta, mas desde cedo me envolvi com futebol, esporte que me trouxe grandes desafios, conquistas inesquecíveis, alegrias sem tamanho. Assim como hoje me orgulho de ter sido eleito Deputado Federal, tenho muito orgulho do lugar que conquistei na história desse esporte, que, no Brasil, mais do que um esporte, é uma paixão coletiva, uma arte popular, um instrumento poderoso de inclusão social. Por isso uma das prioridades do meu mandato é levar a prática do esporte a crianças e jovens, especialmente os mais carentes.
Nesse sentido, foi com prazer que votei pela aprovação da Medida Provisória nº 502, que cria a Bolsa-Atleta para as categorias de base e para os esportistas de ponta, um passo importante para o futebol nacional.
Outra prioridade do meu mandato é a atenção especial às pessoas com deficiência. A vida me deu oportunidade de aprender sobre esse tema e de me tornar, nesse aprendizado, um sujeito mais alegre, tolerante e paciente. Quero retribuir ajudando a disseminar conhecimento sobre o tema, enriquecer o debate e aprimorar a legislação. Quero ajudar a combater o preconceito, do qual as pessoas com deficiência ainda são vítimas.
Muitos não se deram conta, mas o Censo de 2000 já registrava que cerca de 25 milhões de brasileiros eram portadores de deficiência, quase 15% da nossa população. É um número bastante expressivo, que não pode ser ignorado.
Tenho certeza de que o debate aqui na Câmara, sobre o Estatuto da Pessoa com Deficiência, à luz da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da ONU, seráum bom momento para avançarmos.
Teremos pela frente, Sr. Presidente e nobres pares, uma agenda extraordinária de eventos esportivos. O Rio sedia, este ano, os Jogos Mundiais Militares; em 2013, receberá a Copa das Confederações; e, em 2016, as Olimpíadas e as Paraolimpíadas. Em 2014, ele será uma das sedes da Copa do Mundo da FIFA.
Esses eventos são muito importantes para o nosso País, especialmente para o Rio de Janeiro, por muitos motivos. São oportunidades que teremos para dar um salto nas áreas do turismo e do transporte, na geração de empregos e renda, na melhoria da qualificação do trabalhador. São oportunidades de se disseminar a prática do esporte entre os jovens e de se reforçar a preparação dos nossos atletas. São também oportunidades de darmos um salto adiante na questão da acessibilidade, um direito das pessoas com deficiência, que precisa ser garantido.
Em mais de 20 anos de carreira como jogador me acostumei a conviver com a crítica, nem sempre construtiva. Sei que assim, como muitos me apoiam, todos têm o direito de me criticar. Serei cobrado como Deputado, talvez até mais quando defendi a camisa da seleção brasileira ou dos clubes por onde passei.
Pretendo continuar a oferecer aos críticos e aos descrentes a minha melhor resposta: o meu trabalho.
Muito obrigado.
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