quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Jogo subterrâneo


A alta cartolagem do futebol brasileiro e os executivos das duas principais redes de televisão, Globo e Record, vivem momentos de extrema tensão, num jogo que, de tão violento, pode fazer mais vítimas que qualquer outra peleja disputada nas quatro linhas.
Toda a movimentação se dá devido à renovação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, a partir do ano que vem. Atualmente, quem detém esses direitos é a Globo, que, até o Cade se pronunciar num processo que se arrastou anos, também tinha a preferência na renovação do contrato. Agora, determinou o órgão antimonopólio, todas as emissoras entram em igualdade de condições na concorrência.
O Clube dos 13, entidade que reúne os principais clubes do futebol brasileiro, é quem negocia por eles. Pelo menos tem sido assim nos últimos anos.
O que ocorre agora, porém, é que a Record entrou no jogo disposta a ganhar, e a Globo, como não admite perder um dos principais pacotes de faturamento, tem disparado para todas as direções - o risco é uma das balas perdidas ferir de morte o futebol brasileiro.
No seu desespero, a Globo montou uma estratégia suicida. Ela pretende rachar o Clube dos 13 e negociar separadamente com quem estiver disposto a fazer isso - o Corinthians está à frente da rebelião; o Flamengo está a um passo de aderir a ela.
Sem Corinthians e Flamengo, os dois times de maior torcida no país, a Globo crê que o restante do Clube dos 13 acabará aceitando as suas condições e fechará com a emissora.
A própria CBF, que organiza o Brasileirão, ajuda a Globo nesse jogo, pois tem interesse em enfraquecer o Clube dos 13. Teme que, um dia qualquer, a cartolagem tome coragem, forme uma liga, e dê uma banana para a CBF, organizando seu próprio torneio.
Os clubes recebem hoje R$ 280 milhões da Globo pelo Brasileirão. O lance inicial da renovação dos direitos começa em R$ 500 milhões. Isso é só para a TV aberta. Televisão a cabo, pay-per-view, internet e outras mídias serão negociadas separadamente. Há muitos interessados.
O que se comenta é que a Record está disposta a pagar até R$ 1 bilhão pelo campeonato, além de oferecer outros mimos aos clubes: jogos em horários decentes - e não como hoje, "depois da novela" - e exposição dos patrocinadores dos times, entre outros. A Globo promete igualar essas vantagens.
Afinal, para ela, perder o futebol das quartas e domingos significa não só o risco de ficar em segundo no Ibope daquele horário: o futebol alavanca também a audiência do programa que o precede.
O torcedor está alheio a essa renhida disputa de bastidores. O que ele quer é ver o seu time jogar, seja nos estádios, seja na TV - e agora, na internet.
Há, porém, a possibilidade de que os lances até agora apenas ríspidos dessa partida subterrânea descambem para a mais pura pancadaria. Aí, nesse salve-se-quem-puder, não haverá cartão vermelho para dar conta da bagunça e, como sempre, quem sofrerá as consequências será essa multidão de pobres coitados que fazem das cores de seus times uma pintura forte o suficiente para mudar o rumo de suas vidas.

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