terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Hormônios e humores

A imprensa disseca hoje o hipotireoidismo de Ronaldo, com especialistas esclarecendo que a disfunção é fácil de ser controlada e o hormônio sintético usado em seu tratamento não é, como disse o agora ex-jogador em sua entrevista coletiva, um agente dopante.
Assim, há duas hipóteses para explicar por que Ronaldo justificou dessa forma o seu excesso de peso: ou mentiram para ele ao dizer que não poderia tratar do problema na tireoide sem que fosse pego no antidoping, ou ele mentiu na cara dura na coletiva.
Seja como for, permanece inexplicável o motivo pelo qual Ronaldo não informou aos milhões de fãs que tem pelo mundo todo que sofria de hipotireoidismo. A menos que ele e seu estafe tenham concluído que, para o bom andamento dos negócios, seria melhor para todos ignorar o assunto.
Ronaldo foi à coletiva em que anunciou a sua aposentadoria com dois de seus filhos. Chorou, deu um show para  repórter nenhum botar defeito. Respondeu as perguntas no tom exato da emoção, mostrou, enfim, que tem tudo para se dar bem em qualquer atividade extra-campo.
Até mesmo quando contou a lorota do hipotireoidismo se saiu bem, graças à incrível incapacidade da imprensa brasileira de pelo menos tentar ser medíocre.
Será que entre a multidão de jornalistas que foram à coletiva verter lágrimas junto de seu ídolo não havia um sequer que soubesse que repor um hormônio produzido pelo organismo não pode ser considerado doping? Ou que desconfiasse que alguém que sofre dessa disfunção hormonal pode ter sérios problemas de saúde se não se tratar?
Essas são dúvidas tão evidentes para qualquer leigo que chega a ser constrangedor acompanhar o trabalho desse pessoal que diz representar a "imprensa esportiva". O que fazem pode ser considerado tudo, menos jornalismo. O melhor lugar para eles é a arquibancada, não a redação.
No fim da coletiva, Ronaldo foi saudado por uma salva de palmas. Nada mais exemplar para explicitar as relações entre esse jornalismo de araque e aquilo que deveria ser a notícia.

Um comentário:

  1. Isso me lembra o vitiligo do Michael Jackson. Assim como os seriados de ficção, as celebridades parecem trabalhar com princípios científicos próprios, diferentes dos que vemos nas universidades.

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