quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Saudades da Guerra Fria

Lá pelos anos 70, quando comecei no jornalismo, em Jundiaí, era comum os jornais da cidade noticiarem a formação e graduação das turmas da "Adesg", a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, com direito a festa e tudo.
Na prática, era como os militares, que na época mandavam e desmandavam no país, espalhavam para a sociedade civil a doutrina de segurança nacional que orientava as suas ações e dividia o mundo entre bons e maus, amigos e inimigos. Nem é preciso dizer quem era quem...
Toda cidade tinha os cursos da Adesg, dados por algum oficial do Exército para profissionais liberais, comerciantes, empresários e quem mais se interessasse em puxar o saco dos milicos - e, naqueles tempos, puxa-saco era o que não faltava. Os formados no curso exibiam com orgulho o diploma em seus currículos. Ser diplomado pela Adesg dava um ar de importância ao sujeito, o transformava, pelo menos na sua cabeça, em "amigo" dos militares, os manda-chuvas do Brasil de então.
A Adesg ainda existe, tem até site na internet, mas perdeu toda a importância dos tempos da "Gloriosa". Ao contrário da entidade, o que parece que nunca vai acabar é essa maldita ideologia que inspirou os militares a darem o golpe em 64.
Volta e meia sai alguma notícia sobre algum oficial que resolve externar suas opiniões, seu inconformismo, sua revolta a respeito de algo que lhe parece "liberal" demais, "socialista" demais, "moderno" demais.
Claro que isso não ocorreria se as Forças Armadas já estivessem livres dessa doutrina que incorporou como eixo de suas ações desde os anos 50, quando a Guerra Fria corria solta no mundo e os americanos combatiam os inimigos comunistas implacavelmente.
Outro dia, o próprio ministro da Defesa foi protagonista de um incidente desse tipo, ao participar de uma solenidade na Academia Militar de Agulhas Negras: a turma que se formava levava o nome de Emílio Garrastazu Médici, e Nelson Jobim, parece, não gostou muito da homenagem ao ditador.
Não tenho a mínima ideia do que se faz atualmente para extirpar esse câncer que é a doutrina de segurança nacional da formação dos nossos militares.
Sei apenas que se eles continuarem a sair das escolas militares vendo um mundo habitado por mocinhos e bandidos, a jovem democracia brasileira estará sempre ameaçada.

Um comentário:

  1. Prezado Mota
    ASs escolas militares brasileiras em particular e latino americanas em geral não formam lilitares identificados com seus povos, formam MILICANALHAS identificados com os interesses dos países hegemônicos. Simples assim
    Abraço
    Castor Filho

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