sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Metrô sem estações


Em tempos idos, o metrô de São Paulo era considerado um modelo de eficiência, com estações limpas e composições pontuais. Hoje, graças à falta de investimentos e ao descaso das administrações, transformou-se em uma fonte permanente de problemas para a população paulistana. Não passa dia sem que registre algum incidente, que prejudica milhares de pessoas.
A tal Linha 4-Amarela, que vai ligar a Luz à Vila Sônia, cuja construção nunca termina - o processo teve início no ano 2000 - e da qual só se lembra pela tragédia que custou sete vidas, é emblemática, exemplo perfeito de como se pode transformar um serviço essencial numa rede de bons negócios para uns poucos afortunados.
A expectativa era que grande parte da Linha 4 fosse entregue ao público este ano, mas o trens estão correndo apenas um pequeno trecho, ainda de modo experimental. Não existe previsão oficial de conclusão das obras. Mas, pelo andar da carruagem, elas devem demorar ainda uns quatro anos, no mínimo.
Uma das causas, certamente, é o modo como a licitação da linha foi feita, toda segmentada. A construção foi no modelo turn key, no qual uma empresa, ou, no caso, um consórcio de empresas, fica encarregada pela obra e de sua entrega, pronta para funcionar. No contrato, são previstos o preço, fechado desde o início, o projeto, e os procedimentos para a execução da obra, prazo de entrega, além de um seguro em caso de acidentes.
Só que há um detalhe: as estações ficam de fora desse pacote, ou seja, são alvo de nova licitação para as obras e o acabamento, e, na Linha 4-Amarela, ainda há cinco estações intermediárias (Fradique Coutinho, Oscar Freire, Higienópolis, Morumbi e Vila Sônia), que sequer foram licitadas. É preciso lançar o edital, dar um prazo para a inscrição dos interessados, e rezar para que as previsíveis ações judiciais dos perdedores não emperrem todo o processo.
Enquanto tudo isso ocorre, a cidade coleciona recordes de congestionamentos de veículos, recordes de filas nos pontos dos ônibus e recordes de passageiros no metrô.
Sem esquecer, é claro, dos recordes de paralisações dos seus trens.

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