terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Serra o que é de Serra

Não existe jornalista que trabalhe em São Paulo que não saiba de história envolvendo algum telefonema de José Serra aos diretores de um dos jornalões ou outro veículo de comunicação qualquer para reclamar de sabe-se lá o quê: uma matéria de que não gostou, uma foto em que não saiu do jeito simpático e bonitão que julga ser o seu usual... Não em todas, mas em várias ocasiões, pediu a cabeça do jornalista responsável pela matéria - ou pela foto.
Isso já virou folclore nas redações. Como a sua peculiar maneira de dar entrevistas nesta campanha presidencial, em que seus assessores querem saber, de antemão, as perguntas que serão feitas para o chefe. Certos temas, mais incômodos, são vetados com uma informação nada sutil do parajornalista que acompanha o ex-governador:
- Olha, isso ele não vai responder - costumam dizer seus ajudantes para os pobres coitados encarregados de cobrir a agenda do tucano.
Serra também é conhecido pelo jeito rude com que trata as pessoas. Não deve fazer isso por mal, ele é assim mesmo: tem gente que não consegue ser simpática, embora até se esforce, profissionalmente, para isso. É o caso de Serra, que muitas vezes cometeu gafes terríveis quando pensava apenas em agradar seu interlocutor.
Isso vem de longe. No auge da campanha pela Presidência, em 2002, Serra apareceu para almoçar no Estadão - aqueles almoços em que os pratos esfriam enquanto os ouvidos esquentam.
Depois do cafezinho, rumou para a imensa redação, ciceroneado por vários chefes, assistentes e aspirantes a tanto. Não chegou a cumprimentar todos os que lá se encontravam, mas pelo relato de algumas testemunhas, seu estilo peculiar causou profunda impressão em alguns - e um choque em outros.
Entre eles, o editor de economia de então.
- Gosto muito do seu caderno - disse Serra a ele, para em seguida completar:
- Depois da Gazeta Mercantil é o que mais leio.
Outra vítima de sua "franqueza" foi uma experiente repórter de política:
- Nossa, como você engordou! - constatou.
O auge daquela didática tarde foi quando viu uma velha conhecida, na ocasião editora de uma coluna de amenidades:
- Puxa, você está menos corcunda! - elogiou.
Foi um dia em que a auto-estima da redação chegou a níveis baixíssimos.
...
Os políticos geralmente não são bonzinhos.
Nem o Suplicy, com aquele jeito atrapalhado que lembra o Mr. Hulot de Jacques Tati, é o ingênuo que aparenta. Políticos são mesmo uma espécie à parte da gente normal, pois não podem dizer tudo o que sabem, nem saber tudo o que dizem, sob o risco de se desmoralizarem perante o eleitorado.
No caso de Serra, a cada dia ele convence mais a todos nós que ele realmente se trata de um caso raro, único, de político, pois não consegue esconder de ninguém, por mais que se esforce, a sua completa mediocridade.
É um daqueles sujeitos dos quais se diz que o fracasso lhes subiu à cabeça.

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