Nada define melhor o projeto demotucano para o país que a lógica do puxadinho, expressa por José Serra no debate da Band.
Foi a mais completo resumo que fez sobre seus planos de governo.
E a síntese perfeita do seu passado como administrador.
Para ele, ventríloquo dos oligarcas que se sentem a "elite", os homens "de bem", basta que o populacho seja capaz de construir um puxadinho para que todas as coisas se resolvam.
Todos os sonhos, as aspirações, as esperanças das pessoas de fora desse círculo de escolhidos por deus, estão contidas ali nesse puxadinho, que, com muito esforço, muitas economias, muito trabalho mal remunerado (olha aí a mais-valia!), e a máxima, a suprema, contribuição de um Estado magnânino, pode ser anexado a uma moradia feia, velha e gasta.
O puxadinho de Serra é a mais bem acabada expressão do desprezo com que os habitantes da Casa Grande olham os que moram na Senzala. É como se dissessem, num máximo esforço de boa vontade: "Olha, se vocês se comportarem bem, vamos ajudá-los a construir um puxadinho."
Ver e ouvir um candidato presidencial dizer o que disse dá uma tristeza danada na gente. Mas ao mesmo tempo nos deixa com a certeza de que se quisermos ir além do puxadinho, vamos ter de ignorar as ordens desse pessoal e, com nosso próprio esforço, levantar os mais altos edifícios jamais imaginados.
Porque, embora eles não saibam disso, somos um povo que pode construir muito mais que puxadinhos.
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