- Você acha que essas pesquisas estão certas?, perguntou uma ex-assessora de imprensa, já aposentada, a um jornalista ainda na ativa, com cargo em importante veículo de comunicação.
- Acho que sim. No Nordeste, ela tem mais de 60% dos votos, respondeu.
- Nossa, isso é um horror, comentou ela, antes de encerrar o assunto e conversar sobre outros temas mais amenos.
Quando saí da janela e fui pegar um salgadinho, reparei numa revista Veja jogada numa mesa de canto. Foi aí que concluí como esse detalhe de conversa foi esclarecedor e mostrava o grau de preconceito que, infelizmente, ainda existe na sociedade brasileira, e, principalmente, nessas pessoas mais educadas, de mais posses, com mais informação, que, se supõe, deveriam sofrer menos desse mal.
O substantivo que a tal ex-assessora usou resume, de certa forma, como essa elite enxerga o fato de o país ser governado por um ex-metalúrgico com pouca instrução formal, migrante de uma das regiões mais pobres, que está prestes a fazer o sucessor que ele escolheu.
Para essa gente, isso é uma afronta tão grande que encobre toda e qualquer possibilidade de ver os notáveis avanços sociais e econômicos que o Brasil teve na gestão Lula. É como se, recusando a realidade, vivessem em outro mundo.
O Nordeste, onde mais de dois terços dos eleitores se dizem dispostos a votar na "mulher do Lula", não faz parte desse país que essas pessoas habitam e onde só há lugar para gente bonita, que bebe vinho importado, discute amenidades e acredita que a Folha e o Estadão, entre os jornais, e a Veja, entre as revistas, são o paradigma do jornalismo.
O horizonte delas é a grossa cortina de poluição que enxergam das janelas de seus apartamentos nos bairros "nobres" de São Paulo.
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