Ouço, no rádio, o governador paulista, Alberto Goldman, dizer, com aquela sua característica voz melíflua, que a recente onda de violência que se abateu em São Paulo, assim como a última rebelião de jovens internados (na verdade, presos) numa unidade da Fundação Casa (na verdade, Febem) em Campinas, têm conotação política.
- Não posso provar, mas essa é uma dedução lógica - afirmou Goldman.
Na boca do governador do Estado mais poderoso da federação, uma declaração dessas, como ele próprio diz, sem nenhuma prova, é, mais que uma irresponsabilidade, um crime.
Na iminência de ver seu chefe, o candidato presidencial José Serra, de quem herdou a imensa responsabilidade de gerir os negócios do Estado de São Paulo, ser derrotado e, se isso ocorrer, praticamente encerrar sua vida pública, Goldman apela da maneira mais baixa possível.
Pela própria cultura brasileira não se pode esperar atos nobres de políticos, principalmente de políticos tão pequenos como Goldman, que, apesar de ter sido criado na rígida disciplina do Partidão, abandonou seus princípios na primeira oportunidade que teve, para se converter naquilo que é mais abjeto na vida política - um trânsfuga.
Mesmo assim, até para homenagear sua barba branca, para muitos sinal inequívoco de sabedoria e respeitabilidade, o atual governador deveria honrar o cargo que ganhou menos por méritos e mais por conveniências.
Tudo indica, porém, que ele está no governo de São Paulo apenas para usar o alto posto como um trampolim de onde pode espalhar calúnias contra seus adversários. Acha que isso facilita, de algum modo, a campanha eleitoral de seu chefe. E se Serra tiver êxito, quem sabe não lhe sobra uma sinecura como agradecimento pelos bons serviços prestados?
É uma aposta temerária que faz, a ver como anda a disposição dos eleitores. O futuro, também para Goldman, pode ser de uma grande melancolia.
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