segunda-feira, 26 de julho de 2010

De olho no gato

Na crônica anterior tentei explicar que pesquisa, por si só, não vence eleição. Pode ajudar, mas o que decide mesmo são outros fatores. Muita gente concorda com isso apenas parcialmente. Têm razão, pesquisa é mesmo parte de uma eleição, pelo menos no Brasil, ou em determinadas regiões e estratos sociais. De certo modo, para algumas pessoas, elas integram a cultura eleitoral: vibram quando apontam vitória do seu candidato, se irritam quando o oponente aparece na frente.
Hoje, as pesquisas são regulamentadas, seguem um rígido protocolo para terem validade estatística, e há poucas empresas capacitadas a fazer um levantamento abrangente, como é exigido no caso de uma eleição presidencial num país de dimensões extraordinárias como o Brasil.
Não faz muito tempo, porém, as coisas eram bem diferentes. Cada um fazia a sua própria "pesquisa". Eram famosos, por exemplo, os levantamentos das emissoras de rádio paulistanas, especialmente a extinta Jovem Pan e a Bandeirantes.
Na eleição municipal de 1985, a Pan desafiou as enquetes "sérias", que apontavam a vitória de Fernando Henrique Cardoso para a prefeitura de São Paulo, e saiu-se bem: ganhou Jânio Quadros, que liderava a pesquisa da rádio.
Ficou famoso o episódio da foto de FHC sentado na cadeira de prefeito antes da eleição, com a presunção da vitória apenas com base no que diziam os Ibopes e Datafolhas de então. Teve de pagar um dos maiores micos de sua vida...
Em 1982 o país viveu uma festa democrática, com eleições para todos os gostos e já com as novos partidos na disputa. Na época, vivia e trabalhava em Jundiaí, no extinto jornal "Jundiaí Hoje", que apostava numa cobertura forte da política. Resolvemos, para inovar na cidade, fazer a nossa pesquisa eleitoral. Não tínhamos nenhuma experiência, nada conhecíamos sobre o assunto.
Mas foi moleza: fizemos umas cédulas com os nomes dos candidatos a prefeito, distribuímos para os repórteres e outras pessoas de confiança, espalhamos urnas, e fomos recolhendo os "votos", sem nenhum critério dito "científico". Passados não sei quantos dias, contamos as cédulas: a "pesquisa" apontava a vitória do então deputado pelo PMDB André Benassi.
Não sei se demos sorte, se o nosso levantamento foi tão grande que acabou ultrapassando os limites de uma simples amostra, mas o fato é que Benassi venceu a eleição. Havíamos acertado na mosca, infelizmente: a partir dessa vitória o grupo do ex-vereador e deputado não largou mais o poder na cidade.
Essa historinha que contei foi apenas para dizer que as pequisas eleitorais às vezes funcionam, às vezes não. Por mais que se queira dar um ar infalível a elas, sempre pode haver a ocorrência de algum fato que mude o voto de uma boa parte das pessoas pouco tempo antes da eleição.
Houve o caso de um sujeito que foi eleito prefeito de Jundiaí de maneira surpreendente: era um azarão, poucos achavam que teria alguma chance, mas no dia da eleição a cidade amanheceu com um monte de outdoors com a sua propaganda e isso deve ter causado um impacto muito grande nos indecisos.
Existem inúmeros outros exemplos como esse, de tipos que estavam lá atrás nas pesquisas e acabaram eleitos. Por essas e por outras é preciso ficar, como diz a sabedoria popular, com um olho no peixe e o outro no gato, confiar desconfiando, não baixar a guarda nunca, nem quando o vento sopra a favor, nem quando ele está contra.

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