terça-feira, 15 de junho de 2010

Lavagem cerebral

Filho de militar, vi, nos meus tenros anos, muitos livros da Bibliex, a Biblioteca do Exército Editora, em casa. Eram, na maioria, biografias de personagens simpáticos à Arma, tipo Duque de Caxias. Não me lembro de ter lido algum deles. Sempre julguei que eram obras que não mereciam maior atenção, ou pelo tema, ou pelo autor.
A Bibliex continua na ativa. E me surpreendi ao ver seu nome envolvido num escândalo, denunciado pela Folha de S. Paulo - esse sim um verdadeiro escândalo, e não os casos pré-fabricados e com endereço certo que o jornal gosta de explorar.
O ex-ministro José Dirceu, em seu site, comenta o disparate cometido pelo Exército, ao obrigar os 14 mil alunos dos colégios militares do país a aprenderem história sob a óptica deturpada da corporação, que vive ainda no mundo das trevas da década de 60.
Vale a pena ler o seu comentário sobre o assunto:

Redemocratização não chegou às FFAAS
Uma aberração, um absurdo daqueles inomináveis o fato denunciado pela FSP nesse domingo, de que os 12 colégios militares do país, nos quais estudam 14 mil alunos, rejeitaram o livro didático "Projeto Araribá, História", da Editora Moderna na disciplina de História recomendado pelo Ministério da Educação (MEC) e o substituíram por "História do Brasil, Império e República", da Biblioteca do Exército (Bibliex), com as maiores deformações e manipulações sobre o golpe militar de 1964.
"História do Brasil, Império e República" omite a tortura praticada na ditadura, diz que o golpe foi uma revolução democrática, defende que a censura à imprensa foi necessária para o progresso, e que as cassações de mandatos e suspensão de direitos políticos foram uma resposta à intransigência da oposição. E mais: que o presidente deposto, João Goulart, o Jango, era comunista e cooperava com os interesses do Partido Comunista que já havia se infiltrado na Igreja Católica e nas universidades.
No caderno de exercícios que acompanha o livro, com questões de múltipla escolha, numa relativa a "qual o objetivo da revolução de 64", a resposta certa é "combater a inflação, a corrupção e a comunização do país". Mas, alguém no país ainda acredita nisso, nessa farsa? Nem os militares, mesmo os que forjam a continuidade dessa versão que agora distorce e desinforma 14 mil jovens sobre a nossa história.
Rasgaram a Constituição e posam de salvadores da pátria
Mas, o livro editado e imposto pelo Exército em seus colégios militares constitui mais um capitulo no triste fato de como a redemocratização e o julgamento verdadeiro, correto, da história não chegou ainda às Forças Armadas (FFAAS). Continuam impunes os torturadores, assassinos covardes, já que armados e em nome do Estado massacraram presos indefesos e jovens idealistas. Além de cometerem essas barbáries, pretendem apresentá-los como criminosos e terroristas.
Não satisfeitos com isso querem reescrever a história para negá-la, apresentarem-se como salvadores da pátria e democratas, quando na verdade deram um golpe de Estado e violaram a constituição de 1946, por eles rasgada para implantar no país por 21 anos uma ditadura militar.
Até quando o Estado, o Governo, a sociedade brasileira vão permitir que as Forças Armadas (FFAAS) continuem à margem da Carta Magna e da Democracia em questões importantes como o currículo do ensino nas escolas militares? Os professores que formam os novos oficiais tem como obrigação servir ao Brasil e à Constituição e não às corporações e a seus chefes apenas. Com a palavra o governo, o Congresso Nacional, e o PT.

2 comentários:

  1. Ainda bem que o jornalista afirma não acreditar em jornalismo imparcial. Sem a referida ressalva pareceria, a um olhar mais descuidado, que a crítica ao livro editado pela Bibliex, parcialmente correta na minha visão, que seu objetivo seria a louvação do PT.

    O que tem a ver o PT com o currículo de QUALQUER escola? Ele deve "fiscalizar" a elaboração e aplicação dos currículos escolares?

    Deve existir uma cartilha petista nas escolas? O PT é o guardião da nossa Constituição? Professores petistas é que deveriam incutir os "novos valores" nos militares?

    Sinceramente não entendi.

    obs.: Despropositado o trecho final do último parágrafo, já que os militares, em razão de sua formação na AMAN (e logicamente em razão de direito conferido por lei) saem da referida academia licensiados para o magistério. E lá, sendo instruídos por militares e civis (estes imbuídos dos valores certos ou errados comungados pelos primeiros) certamente não terão/sofrerão a influencia desejada pelo jornalista.

    A questão é simples: pouco importa a formação de qualquer professor. Para dar aula num CM o professor DEVE se ajustar aos valores da instituição (não entro no mérito deles). Ou será que nos colégios confessionais a inquisição, a pedofilia dos padres e outras belezuras da igreja católica são escancarados?

    Desde logo agradeço a atenção.

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  2. O ilustríssimo jornalista poderia me dizer o motivo pelo qual nos livros de História do Brasil, aprovados pelo MEC, não reproduzem os fatos de terrorismo e assassinato impetrados pela a oposição do governo a época? Ou o ilustríssimo acha que tal assunto é irrelevante e o importante foram somente as atrocidades cometidas pelos Governantes Militares?
    O vida é imparcial, assim como o jornalismo e por conseguinte a História de um povo, que nela poderemos verificar a sua versão, a minha versão e a verdadeira versão.
    Cordialmente, Caciano.

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