quarta-feira, 16 de junho de 2010

O rei dos cartolas


Tempo de Copa do Mundo, tempo de lembrar as glórias passadas do Brasil no viril esporte bretão. Tempo também de lembrar das figuras que tornaram o futebol a verdadeira paixão nacional - incluídos nesse panteão os tão criticados, desprezados e humilhados cartolas, hoje chamados de "dirigentes esportivos" por uma geração que não conheceu os tipos que realmente levaram o esporte da bola como se deve - a sério, mas nem tanto.
E, assim, nada mais justo que recordar o mais folclórico e rico - no sentido cultural - de todos, o inimitável e imorredouro Vicente Matheus, corintianíssimo, mas amado pelos torcedores de todos os times rivais.
Sujeito inteligente como poucos, Matheus era desconcertante. Comandou o Corinthians com mão de ferro e se transformou no estereótipo do cartola nacional: um tipo que dedica a vida ao clube de seu coração e é capaz de fazer tudo por ele, aí incluído um repertório de boas e de más ações.
Mas, além de sua corintianice hiperbólica, Matheus passou à história também como um notável fazedor de frases, muitas delas ainda repetidas em qualquer roda de amigos que discutem o futebol. Ele dizia que a gorda coleção de frases era um exagero dos jornalistas. Pouco importa, o que vale mesmo é curtir o non sense do matheusês, a língua que melhor expressa as raízes, o jeito e a magia do futebol brasileiro.
Aí vai, então, um pequeno exemplo do imenso legado de Vicente Matheus:

"Quem está na chuva é para se queimar."
"Haja o que hajar, o Corinthians será campeão."
"Esse é um resultado que agradou gregos e napolitanos."
"Gostaria de agradecer à Antarctica pelas Brahmas que nos mandaram."
"O Sócrates é invendável e imprestável."
"Depois da tempestade vem a ambulância."
"Comigo ou sem migo o Corinthians será campeão."
"Quero mesblar (referência à antiga loja Mesbla) jovens e velhos da diretoria."
"Tive uma infantilidade muito triste."
"O difícil não é fácil."
"De gole em gole, a galinha enche o papo."
"Peço aos corinthianos que compareçam às urnas para naufragar nossa chapa."
"Não veio o Falcão, mas comprei o Lero-
Lero." (referindo-se ao jogador Biro-Biro)
"Isso é uma faca de dois legumes."
"Vou realizar uma anestesia geral para quem tiver a mensalidade atrasada."
"Jogador tem de ser completo como o pato, que é um animal aquático e gramático."


E essa eu sei que é verdadeira, pois ouvi numa transmissão da antiga rádio Tupi, depois de um jogo em que enfurecidos torcidores corintianos tentaram agredir alguns cartolas que estavam vendo o jogo. O repórter foi ouvir a opinião de Matheus sobre o episódio. Ele não deu muita importância ao incidente:
- Isso aí foi coisa de meia dúzia de gatos pintados.

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