sexta-feira, 11 de junho de 2010

Casa Grande e Senzala

Apresentado como um lugar "original, eclético, capaz de casar a conceituada Hermés com o despojamento da carioquíssima sorveteria Mil Frutas; a sobriedade da Daslu com a modernidade de Reinaldo Lourenço; a agitação da academia Reebok com a calma da Livraria da Vila", o Shopping Cidade Jardim, um dos playgrounds preferidos da burguesia paulistana, resolveu adotar medidas inéditas de segurança, informa o Estadão: abordagem e triagem de veículos "para entrada e circulação no complexo" e instalação de detectores de metal "em alguns acessos". O shopping sofreu dois assaltos em menos de um mês.
Segundo o jornal, o plano de segurança prevê o uso de detectores de metais do tipo raquete na porta 8, na lateral do shopping, das 6 horas às 10 horas, por onde passarão a entrar funcionários, fornecedores e clientes da academia de ginástica.
Além disso, a porta 7, usada pelos ladrões que roubaram a relojoaria Corsage, única representante da Rolex na América Latina, ficará definitivamente fechada. No caso dos carros, apenas funcionários e fornecedores não ficariam mais na região das docas do shopping. As revistas e restrições à circulação de carros não atingiriam, portanto, os clientes depois da abertura do shopping, das 10 às 23 horas.
Entrevistado pelo jornal, o presidente da Associação Brasileira de Shoppings, Luiz Fernando Veiga, disse que abordar veículos na entrada do shopping e submeter clientes, fornecedores ou funcionários à detecção de metal é uma medida "radical" do estabelecimento. "Não precisa chegar a esse ponto. O ideal é aumentar o número de câmeras e de seguranças dentro do shopping e garantir que sejam bem treinados", disse Veiga. Segundo ele, a medida é inédita no País. "Ao menos entre nossos 224 associados."
O que a direção do shopping está fazendo nada mais é do que tornar explícito o sentimento geral da elite brasileira, que prefere viver isolada num gueto, com a falsa impressão de segurança, do que contribuir de alguma maneira para transformar a sociedade, diminuindo a imensa desigualdade econômica, primeiro passo para atenuar as tensões sociais e a própria violência.
É a velha história da Casa Grande e da Senzala. Ou se preferirem, da luta de classes explicada pelo sempre atual Karl Marx.

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