terça-feira, 18 de maio de 2010

Os delírios do general

Até dá para entender porque a Folha publicou, segunda-feira, uma entrevista de página inteira com o general Maynard Marques Santa Rosa, que foi mandado para a reserva em março, depois que o próprio jornal publicou e-mail em que ele classificou a Comissão da Verdade de "comissão da calúnia integrada por fanáticos". É a ânsia de procurar o sensacionalismo, a notícia chocante, a polêmica.
O que não dá para entender é que, em pleno século 21, com o país passando por um dos melhores momentos de sua história, registrando avanços notáveis em vários campos, o Exército possa ter abrigado, durante tantos anos, um alucinado como Santa Rosa.
Ler a sua entrevista é voltar ao tempo em que o mundo se dividia entre os bons capitalistas e os maus comunistas, entre as duas superpotências, entre quem defendia os "valores" conservadores da oligarquia nacional e aqueles que queriam a construção de um país plenamente democrático.
Não há nada demais que Santa Rosa tenha construído sua vida no Exército. O estranho é que ele tenha galgado tantas posições até se tornar um general sem que ninguém na instituição tenha percebido que ele se tratava de um caso patológico.
Pois há uma enorme diferença entre ter um ponto de vista - por mais exótico, irrefletido, absurdo que ele seja - e viver uma realidade imaginária para sustentar esse ponto de vista.
Nesse mundo distorcido do general, os militares brasileiros não torturaram nem mataram seus opositores, a imprensa foi "amplamente livre", e as Forças Armadas, ao dar um golpe de Estado e instaurar uma ditadura que perdurou por duas décadas, apenas livraram o país de um "mal maior".
Nos seus delírios, o general Santa Rosa imagina o país à beira de se tornar uma "ditadura totalitária" e vê o povo numa "situação letárgica".
Ao menos, por enquanto, ele não prega uma cruzada cívica para nos livrar dessa situação. O Brasil agradece.

Um comentário:

  1. Sim, o Brasil agradece.
    Mas isso também é um absurdo: precisamos agradecer a um lunático reacionário por não iniciar um movimento "cívico".
    Respeito ao próximo é necessário, mas a ideias autoritárias e sanguinárias não é cabível.

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